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2 - O INÍCIO DO ISLÃ COM MUHAMMAD (610 a 615 d.C.)
O profeta Muhammad -- A ascensão da primeira comunidade islâmica -- A oposição dos mecanos -- A primeira migração à Abissínia.
2.01 -- PARTE II – O profeta perseguido em Meca
2.02 -- O profeta Muhammad
2.02.1 -- Como Muhammad mediou a disputa a respeito da pedra sagrada em Meca
Quando Muhammad tinha trinta e cinco anos de idade, os coraixitas decidiram erguer a Caaba. Ela não era mais alta do que um homem e consistia de pedras empilhadas umas sobre as outras. Ainda assim, eles hesitavam em demoli-la. Eles ergueram as paredes e o teto da estrutura porque o tesouro, o qual fora escondido em um poço na parte interna da Caaba, fora roubado. O tesouro foi encontrado com Duwaik, um ex-escravo dos Banu Mulayh. Eles supuseram, porém, que outros o roubaram e que o esconderam com Duwaik. Pouco antes disso, uma tempestade lançou o barco de um mercador grego à costa de Jiddah, onde ele se quebrou. Os árabes tomaram para si sua madeira, desejando usá-la para construir o telhado da Caaba. Além disso, houve um copta*, que trabalhava como carpinteiro, que preparou a madeira para tal uso.
No poço da Caaba, onde diariamente era jogada comida, habitava uma cobra. Ela gostava de ficar nas paredes da Caaba para tomar sol. Todos tinham muito medo dela porque logo que alguém se aproximava ela já se erguia, sibilava e abria sua boca. Um dia, enquanto ela novamente tomava sol nas paredes da Caaba, Allah enviou um pássaro que a levou embora. Por isso os coraixitas dizem: “Esperamos que Allah aprove nossa intenção. Nós temos um carpinteiro amigo; temos madeira e agora Allah nos livrou daquela cobra.”
Os coraixitas dividiram a construção da Caaba entre si. O lado em que a porta ficava ficou com os filhos de Abd Manaf e Zuhra; a parte entre a parte preta e o pilares iemenitas foi para os Banu Makhzum e outras tribos dos coraixitas, que são parte deles; a parte de trás da Caaba ficou com os Banu Jumah e Sahm, filhos de Amr; a parede norte aos “Hatim”, Banu Abd al-Dar ibn Qusai, Banu Asad ibn Abd al-‘Uzza e aos Banu ‘Adi ibn Ka’b.
Ainda assim os homens hesitaram em derrubar a Caaba. Foi então que al-Walid ibn Mughira disse: “Eu vou começar a derrubá-la!” Ele tomou uma picareta, se pôs à frente da Caaba e gritou: “Allah, que nenhum infortúnio caia sobre nós. Allah, somente queremos o que é bom!”
Então ele começou a derrubar a parede entre os dois pilares. Os outros aguardaram por toda a noite e disseram: “Nós queremos ver se um infortúnio cairá sobre ele. Se sim, nós deixaremos isso para lá; se não, então Allah aprova nossa intenção.”
Na manhã seguinte, como al-Walid continuava a demolição, os outros seguiram seu exemplo. Quando chegaram às pedras da fundação, que foram postas por Ibrahim (Abraão),* eles as encontraram verdes e na forma da costas de um camelo. Elas foram firmemente postas em camadas. Um coraixita, o qual também estava envolvido com a demolição, inseriu um grande pé de cabra entre as duas pedras a fim de afrouxá-las e arrancar uma das pedras. Logo que uma das pedras começou a balançar, toda a Meca também começou a tremer. Então eles deixaram as pedras da fundação imóveis, de modo que permaneceram em seu lugar.
Sobre um dos pilares os coraixitas encontraram um escrito sírio. Ninguém pôde decifrá-lo até que fora lido por um judeu. Dizia: “Eu sou Allah, o Senhor de Meca. Eu criei essa cidade no dia em que criei o céu e a terra, em que formei o sol e a lua, e dei a ela sete anjos para proteção. Ela permanecerá enquanto houver as duas montanhas à sua volta. Seu povo será abençoado com água e leite.”
Laith ibn Abi Sulaim dizia que quarenta anos antes do envio de Muhammad, uma pedra foi encontrada na Caaba e que dizia: “Quem planta bondade, colhe bênçãos; quem planta maldade, colhe arrependimento. Você quer ser recompensado com boas coisas por fazer o que é mau? Não, tal como as uvas não se ajuntam em espinhos.”*
Os coraixitas continuaram a ajuntar pedras para a construção da Caaba. Cada tribo trabalhou sozinha. Eles construíram até chegar ao lugar da pedra sagrada. Então ali começou uma disputa. Cada uma das tribos queria ter a honra e o privilégio de colocá-la em seu lugar. Logo eles se distanciaram uns dos outros, formaram alianças e se prepararam para a batalha.
Os Banu Abd al-Dar trouxeram uma panela com sangue e formaram uma aliança com os Banu ‘Adi. Ao fazer isso, eles juraram permanecer fiéis até a morte ao imergirem suas mãos no sangue que estava na panela. Com isso eles ficaram conhecidos como os “sanguinolentos”. Essa discussão durou por quatro ou cinco dias. Após isso, eles todos se reuniram em uma mesquita e formaram concílio entre si. Foi então que Abu Umayya se adiantou, que, naquele tempo, era o homem mais velho entre os coraixitas, e fez uma sugestão de que eles aceitassem como árbitro o primeiro que colocasse o pé na mesquita.
Eles concordaram e o primeiro a entrar foi Muhammad. Quando eles o viram, eles exclamaram: “Ele é perfeito para nós, ele é confiável.”
Eles o contaram sobre a causa em disputa. Naquele momento ele trazia um tecido consigo, sobre o qual ele pôs a pedra no meio. Então ele deixou uma pessoa de cada tribo segurar o tecido, juntos levantaram a pedra e a carregaram até o lugar onde ela era depositada. Então ele mesmo a pôs em seu lugar antigo e a construção pôde continuar.
Muhammad tolerou a Caaba e seus ídolos até conquistar a cidade com seu exército. Então ele purificou o templo de seus ídolos, mas permitiu que a pedra negra continuasse na Caaba, e até a beijou.
Nos tempos de Muhammad, a Caaba tinha oito cúbitos de extensão, largura e de altura. Ela era coberta com uma lona egípcia e depois coberta com um material de algodão listrado. Al-Hajjaj ibn Yusuf foi o primeiro a cobri-la com seda.
2.02.2 -- A respeito da crença em jinns em Meca
Os rabinos judeus, sacerdotes cristãos e os adivinhos entre os árabes já haviam falado sobre Muhammad em seu tempo. Os rabinos proclamaram o que encontraram a respeito dele e de seu tempo em suas Escrituras. Os adivinhos adicionaram aquilo que haviam ouvido de Jinns* maus (espíritos), antes que as estrelas caíssem sobre eles (estrelas cadentes).
O islã fala de dois tipos diferentes de Jinn: os bons e os maus. Os bons são os que aceitaram o Alcorão e que se tornaram muçulmanos!
Homens e mulheres adivinhos fizeram várias menções sobre a vinda de Muhammad, mas os árabes não demonstraram interesse nisso até que aquilo que fora dito foi confirmado. Então eles deram ouvidos à razão. Quando se aproximou o tempo da vinda do mensageiro de Allah, os perversos Jinn não podiam mais ouvir as pessoas em segredo. Eles não podiam mais retornar aos lugares antigos, de onde ouviam escondidos, o que os levou a serem afligidos por estrelas. Com isso eles perceberam que aquilo que Allah havia determinado estava ocorrendo. Allah revelou a seu profeta essa história dos Jinn (Sura al-Jinn 72:1-3): “Dize: Foi-me revelado que um grupo de gênios escutou (a recitação do Alcorão). Disseram: Em verdade, ouvimos um Alcorão admirável, que guia à verdade, pelo que nele cremos, e jamais atribuiremos parceiro alguém ao nosso Senhor; cremos em que - exaltada seja a Majestade do nosso Senhor - Ele jamais teve cônjuge ou prole.”*
Quando os Jinn ficaram sabendo do Alcorão, eles souberam porque não podiam mais bisbilhotar. A revelação não era para ser incompreensível e duvidosa. Agora os Jinn também criam e pregavam a seus companheiros: “Escutamos a leitura de um Livro, que foi revelado depois do de Moisés, corroborante dos anteriores, que conduz o homem à verdade e ao caminho reto.” (Sura al-Ahqaf 46:30).
Muhammad ibn Muslim ibn Shihab al-Zuhri ouviu de Ali ibn Husain ibn Ali ibn Abu Talib, que, por sua vez, ouviu de Ansar. Muhammad supostamente perguntou: “O que vocês acham das estrelas cadentes?” Eles responderam: “Pensamos que um rei morreu ou foi apontado ao trono, ou que uma criança famosa nasceu ou morreu.” Então Muhammad respondeu: “Não está certo, na verdade, é que Allah decretou alguma coisa sobre sua criação. Os que se assentam em tronos ouviram isso e o louvaram. Os anjos subalternos seguiram seu exemplo. Então louvor se estendeu até as partes mais inferiores do céu.” Foi então que um deles quis saber com outro porque é que estavam louvando a Allah. Eles receberam a resposta: “Porque aqueles de cima o louvam.” Então aqueles de baixo e todos até os que se assentam em tronos foram exigidos que fizessem o mesmo. Quando eles transmitiram o decreto de Allah, a resposta veio em etapas, até a parte mais inferior do céu. Ali os Jinn malvados ouviram e interpretaram incorretamente ou falsamente algumas coisas. Então eles foram ter com os adivinhadores da terra. Então eles parcialmente os desviaram e parcialmente os contaram a verdade. Os adivinhadores retransmitiram a mensagem, de modo que divulgaram alguns erros e algumas verdades. Portanto, Allah manteve os Jinn afastados, permitindo que fossem atingidos por estrelas cadentes. Dessa forma as revelações de adivinhadores chegaram ao fim.*
2.02.3 -- Encontros com judeus*
Salama ibn Salama recontou: “Um judeu, que era um companheiro protegido dos Banu Abd al-Ashhal, veio um dia (naquele tempo eu era um dos mais novos, vestia um robe e costumava me deitar na frente da casa de minha família) e falou da ressurreição, do julgamento e das balanças do paraíso e do inferno. Os politeístas e os idólatras, que não acreditavam em ressurreição, responderam-no: ‘Você realmente acredita que as pessoas serão ressuscitadas após a morte e entrarão em um mundo em que há um céu e um inferno e que serão recompensadas segundo suas obras?’”**
** A crença na ressurreição dos mortos e no paraíso e inferno foi transmitida a Muhammad por judeus. Cerca de 70% dos textos do Alcorão contêm histórias distorcidas e leis extraídas do Antigo Testamento.
Ele respondeu: “Sim, por Aquele por quem o homem jura!” Ele adicionou que preferiria ser preso sobre o maior forno aquecido que existe se isso o livrasse do fogo do inferno.
Alguns anos antes da ascensão do islã, um judeu da Síria, chamado Ibn al-Hayabban, viveu entre nós. Por Allah, ele era o melhor entre todos os que não praticavam as cinco orações diárias. Sempre que tínhamos seca, nós íamos a ele e pedíamos que implorasse a Allah por chuva.* De antemão ele sempre nos convocava para darmos esmolas, e quando perguntávamos o quanto, ele respondia: “Um saa’** de tâmaras ou duas porções de cevada.” Tão logo trazíamos o que fora pedido, ele ia conosco ao campo e começava a implorarar a Allah por chuva em nosso favor. E, por Allah, ele mal se levantava e uma nuvem já passava e lançava sua preciosa água sobre nós. Isso acontecia frequentemente. Quando chegou a hora de sua morte, ele pediu a seus patrícios: “Por que vocês acham que eu deixei minha fértil terra e vim para essa terra desolada?” Eles responderam-no: “Só você sabe suas razões!” Ele continuou: “Eu vim para cá porque eu estou esperando por um profeta, um que virá em breve e que aparecerá nessa terra. Não se deixem enganar por outros porque ele derramará o sangue de seus oponentes e tomará cativos seus filhos. Nada os pode proteger dele.”
** Um saa’ era uma medida que variava entre as regiões. Hoje um saa’ é considerado três litros.
Posteriormente, quando Muhammad cercou os Banu Quraiza, que eram judeus, os homens disseram, os quais ainda eram jovens naquele tempo: “Ó, filhos de Quraiza! Por Allah, esse é o profeta que foi prometido a vocês por Ibn al-Hayyaban!”* Porém, eles responderam: “Não é ele!”
2.02.4 -- Os que buscavam a Deus (os hafinitas)
Em uma ocasião, em um dos dias festivos, os coraixitas se reuniram à volta de um de seus ídolos, a quem honravam e ofereciam sacrifícios, com o qual ficavam muito tempo e faziam procissões. Aquela foi uma de suas festividades anuais, as quais celebravam. Não obstante, quatro homens se afastaram dos demais e em segredo fizeram aliança entre si. Eles eram Waraqa ibn Nawfal, ‘Ubaid Allah ibn Jahsh, Uthman ibn al-Huwairith e Zaid ibn Amr. Um deles disse aos outros: “Nós sabemos, por Allah, que nosso povo não segue a fé verdadeira. Eles corromperam a religião de seu pai Abraão. Como podemos andar à volta de uma pedra que não pode ver ou ouvir e que não pode nos ajudar e nem causar mal? Vamos procurar uma outra fé, essa que nos foi herdada de nada serve.” Após isso, eles partiram para diferentes terras em busca da verdadeira fé de Abraão.*
Waraqa ibn Nawfal* se inteirou do cristianismo e estudou os livros cristãos até que se tornou familiar à erudição do Povo do Livro.
‘Ubaid Allah ibn Jahsh permaneceu cético até se converter ao islã. Então ele emigrou com sua esposa, Umm Habiba, uma filha de Abu Sufyan, à Abissínia. Enquanto viviam lá, ele se converteu ao cristianismo e morreu cristão. Após ‘Ubaid ibn Jahsh se tornar cristão, ele disse a seus companheiros que emigraram à Abissínia consigo: “Nós claramente reconhecemos a verdade. Vocês, porém, ainda a buscam e não a enxergam.” Ao dizer isso ele usou uma expressão que é usada quando um cão abre seus olhos pela primeira vez, de modo que ainda não vê claramente. Posteriormente Muhammad se casou com a viúva de ‘Ubaid Allah.* Para esse fim, ele enviou Amr ibn Umaiyya al-Damri ao príncipe da Abissínia para ganhá-la. O príncipe aceitou a proposta de casamento no valor de 400 dinars por ela.
Uthman ibn al-Huwairith foi ao imperador de Bizâncio, se tornou cristão, e sob a supervisor do imperador, adquiriu posição de grande estima.*
Zaid ibn Amr não aceitou a fé judaica e nem a cristã. Não obstante, ele abandonou a fé de seu próprio povo. Ele se absteve da adoração a ídolos, do consumo de animais mortos e daqueles que foram oferecidos a ídolos, bem como de sangue. Ele também condenou a prática de enterrar meninas vivas.* Ele disse: “Eu adoro o Senhor de Abraão,” e em alta voz denunciou os erros de seu povo. Hisham ibn ‘Urwa me relatou que seu pai ouviu de sua mãe, Asma’, filha de Abu Bakr, o seguinte: “Eu vi Zaid ibn ‘Amr e como ele, sendo velho, encostou-se à Caaba e disse: ‘Ó, povo coraixita! Por Aquele em quem minha alma vive, além de mim, nenhum de vocês segue a fé de Abraão.” Então continuou: “Allah... se eu soubesse de que forma você quer ser adorado, eu o adoraria assim; mas eu não sei.” Então ele caiu em adoração, sobre suas mãos.”
Zaid compôs o seguinte verso a respeito de se afastar da fé de seu povo e sobre o que ele, como resultado, teve de suportar:
Então ele partiu para descobrir a fé de Abraão e para questionar a monges e a rabinos. Ele viajou à Mesopotâmia e chegou a Mosul,* visitou a Síria até que chegou a Maifa, na província de Balqa. Lá ele encontrou um monge que, se supõe, era o cristão mais entendido. Ele o perguntou a respeito da verdadeira religião, sobre a fé de Abraão. O monge respondeu: “Você procura uma religião sobre a qual ninguém mais pode te instruir, mas já está próximo o tempo em que um profeta aparecerá na terra de onde você veio. Ele será enviado por Allah com a verdadeira fé de Abraão. Una-se a ele, ele logo desaparecerá, porque chegou seu tempo.” Zaid se familiarizou com a religião judaica e com o cristianismo, mas nenhuma das religiões o satisfez. Em sua jornada de volta a Meca ele passou pela terra dos laquimitas. Eles o atacaram e o mataram.**
** Antes mesmo das revelações de Muhammad, havia em Meca, por causa da influência dos judeus e dos cristãos, uma crescente convicção ente alguns “hanifitas” (buscadores de Deus) de que os deuses, ídolos e estátuas na área da Caaba de nada serviam e estavam mortos.
2.02.5 -- Como o mensageiro de Allah é supostamente profetizado no Evangelho
Segundo à cópia do Evangelho revelado por Allah e escrito pelo discípulo João, enquanto Isa ainda estava vivo, ‘Isa ibn Maryam teria dito o seguinte a respeito de Muhammad: “Quem me odeia, odeia ao Senhor. Se eu não tivesse feito diante dos olhos deles obras tais que ninguém outro fez, eles seriam inocentes. Mas eles são ingratos e creram que tinham que me honrar tal como ao próprio Senhor. A palavra escrita no livro da lei, porém, precisa ser cumprida, que diz que eles me odiaram sem razão.** Se Munhamanna*** já tivesse aparecido, a quem Allah enviará a vocês da parte do Senhor e do Espírito de santidade****, vocês testemunhariam por mim e por si mesmos. Vocês também fariam igual se estivessem comigo desde cedo. Isso eu vos falo para que não duvidem.”*****
** Partes do Evangelho de João já eram conhecidas em Meca nos tempos de Muhammad e já haviam sido discutidas pelos habitantes da cidade (veja João 15:23-27; 16:1).
*** Munhamanna parece ser a tradução árabe da palavra grega Parakletos. Fazer essa interpretação ter conotação com Muhammad trata-se de um equívoco, já que a palavra grega foi usada corretamente e a interpretação usa falsas vogais para formar periklytos. Parakletos significa “confortador” e “auxiliador”; periklytos, porém, significa “o louvado”, que corresponde ao significado da palavra árabe Muhammad. Por essa razão, muçulmanos mantêm que Muhammad é o Parakletos, que é o Confortador prometido no Novo Testamento.
**** Nessa passagem, as pessoas da Santíssima Trindade ainda são mencionadas sem reflexão: Allah, o Senhor, e o Espírito da Santidade. Na teologia posterior do islã isso é estritamente rejeitado.
***** Muhammad entendeu errado a promessa de Jesus Cristo (João 15:26), de que ele enviaria o Espírito confortador, e a aplicou a si. Nenhum muçulmano aceita que Muhammad é um mensageiro de Cristo (João 14:16,17; 16:7-11)!
É característico que Ibn Hisham, pouco antes de começar as ditas revelações de Muhammad, se prepara para explicar facetas do evangelho, mesmo que má entendidas, indiretamente confirmando a declaração de ‘Ubaid Allah, o qual, na Abissínia, se converteu do islã para o cristianismo.
Quando Muhammad tinha quarenta anos de idade, Allah o enviou ao mundo, como sua misericórdia pela humanidade.* Já nos tempos antigos, Allah havia posto sobre cada um de seus profetas a responsabilidade de crer em Muhammad, de testemunhá-lo como fiel e de ficar ao seu lado contra seus inimigos. Eles deveriam proclamar todas essas coisas a todos os que nelas cressem e tê-las como verdade. Eles fizeram conforme lhes fora ordenado.
2.02.6 -- As primeiras visões de Muhammad (cerca de 610 d.C.)
‘Urwa ibn al-Zubair ouviu o seguinte de ‘Aisha: “Quando Allah quis honrar a Muhammad e ter misericórdia da humanidade, ele permitiu que seu ministério profético começasse, usando manifestações em sonhos, como o despontar do sol em uma aurora. Allah o concedeu inclinação para a solidão. Era a solidão o que Muhammad mais amava.”
Wahb ibn Kaisan relatou o que ‘Ubaid disse-lhe: “Muhammad passou um mês em Hira e alimentou os pobres que o procuraram. Quando o mês acabou, ele andava à volta da Caaba por sete vezes, ou tantas quanto agradassem a Allah. Só então ele ia para casa. Quando chegou o ano de seu envio, como de costume ele foi com sua família a Hira no mês do Ramadã (9º mês). Pela noite Allah honrou seu servo com a mensagem, aparecendo-lhe o Anjo Gabriel, trazendo-lhe a ordem de Allah.*
Além disso, no islã o Anjo Gabriel é chamado de “Espírito da Santidade”. Então o Espírito Santo do Alcorão é um anjo criado, não o próprio espírito de Deus. Aqui se torna claro que nenhum Espírito Santo habita e trabalha na totalidade do islã e entre os muçulmanos.
“Eu dormia”, disse Muhammad, “quando ele me trouxe um tecido de seda, sobre o qual estava escrito ‘Recita!’* Eu respondi: ‘Eu não sei ler!’** Então ele me pressionou contra o tecido, de modo que pensei que fosse morrer. Então ele me soltou e disse novamente: ‘Recita!’ Quando eu novamente respondi que não sabia ler, ele me cobriu com o tecido, de modo que eu quase entreguei o espírito.*** Então ele me soltou e repetiu sua ordem. Então eu perguntei, com temor de que ele me fizesse como antes, o que eu deveria recitar. Então ele disse. ‘Recita, em nome de seu Senhor, que criou o homem de um coágulo de sangue,**** recita, seu Senhor é o Misericordioso, que ensina os homens por meio da caneta, que os ensinou o que não sabiam’ (Sura al-‘Alaq 96:1-5). Eu recitei e Gabriel me libertou. Após eu acordar, era como se essas palavras estivessem escritas em meu coração.”
** Muhammad era iletrado. Ele não sabia ler ou escrever (Sura al-A’raf 7:157,158). Além disso, em seu tempo o Novo Testamento ainda não havia sido traduzido para o árabe. Ainda que estivesse disponível em árabe, Muhammad não seria capaz de lê-los. Ainda menos capaz ele teria sido de ler a bíblia em suas línguas originais, o hebraico e o grego. Então ele não teve acesso às fontes originais da Verdade e viu-se forçado a depender de tradições orais.
Jesus sabia ler e escrever e recitava textos da Torá e dos profetas (Lucas 4:17-20) em idioma hebreu. Além disso, Ele é a Palavra de Deus encarnada e a Verdade em pessoa.
*** As revelações a Muhammad de forma alguma chegaram a ele de maneira satisfatória ou abençoada. Cada vez que ele recebia as revelações, ele sentia que dolorosamente sufocaria ou que morreria.
**** Deus não criou o homem de um coágulo de sangue. Não é o sangue o que primeiro foi usado. Deus criou o homem por meio de Sua Palavra e o formou a partir do barro à sua semelhança (Gênesis 1:26,27; 2:7; 3:19).
“Eu saí da caverna e fiquei no meio do monte. Então ouvi uma vez do céu que me chamava: ‘Muhammad! Você é o mensageiro de Allah e eu sou Gabriel.’ Eu ergui minha cabeça para o céu para ver quem estava falando, e então vi Gabriel em forma de homem com asas. Seus pés estavam plantados no horizonte e ele gritou: ‘Muhammad! Você é o mensageiro de Allah e eu sou Gabriel.’ Eu permaneci de pé e olhei para aquela aparição, sem me aproximar ou me afastar. Então me virei dele, mas não importava para onde eu olhasse, eu sempre via Gabriel diante de mim. Eu permaneci assim, de pé, sem ir para frente ou para trás, até que Khadija enviou pessoas à minha procura. Eles foram às partes altas de Meca até que retornaram à mulher que os enviara. Ainda assim eu permaneci de pé até que o anjo foi embora, e somente então eu retornei à minha família."
“Quando retornei à Khadija, eu me sentei em seu colo e me pressionei com força contra seu corpo. Ela me perguntou onde eu estava e disse que havia enviado pessoas à minha procura. Eles foram às partes altas de Meca e retornaram. Quando eu contei a ela o que havia visto, ela disse: ‘Fique feliz, ó, primo, e anime-se naquele em quem minha alma repousa. Eu espero que você venha a ser o profeta de seu povo.’”*
“Então ela se levantou, se vestiu e foi a seu primo, Waraqa ibn Nawfal, que se tornara cristão, leu as Escrituras e que já ouvido algumas coisas dos judeus e dos cristãos. Ela o contou o que havia visto e ouvido. Então Waraqa falou: ‘Santo, santo, santo é aquele que domina a alma de Waraqa! Se o que você me diz é a verdade, foi o grande Namus* que veio a ele, que também apareceu a Moisés, então ele é o profeta dessa nação. Diga a ele que ele deve permanecer firme.’”
Após isso, Khadija retornou a Muhammad e contou a ele o que Waraqa dissera.
Quando seu tempo de reclusão para meditar se passou, Muhammad voltou para casa e, como de costume, primeiro foi andar à volta da Caaba. No meio do caminho Waraqa o encontrou e disse-lhe: “Me diga o que você viu e o que ouviu.” Quando ele o contou, ele disse: “Por aquele que governa minha alma, você é o profeta dessa nação. O grande Namus que apareceu a Moisés também veio a você. As pessoas te chamarão de mentiroso, o maltratarão, te exilarão e te combaterão. Se eu viver durante este tempo, eu estarei com Allah de modo que ele me dará crédito por isso.” Então ele curvou sua cabeça e o beijou na testa, e Muhammad voltou para casa.”*
2.02.7 -- Como a esposa de Muhammad, Khadija, testou suas revelações
Isma’il ibn Abi Hakim, um ex-escravo da família de Zubair, me contou que ele ouviu o seguinte a respeito de Khadija: “Eu disse a Muhammad: ‘Você pode me avisar na hora em que seu amigo aparecer a você?’ Ele disse, ‘Sim’. Eu o pedi que fizesse isso. Quando Gabriel apareceu-lhe novamente, ele me avisou. Eu disse a Muhammad: ‘Sente-se sobre minha coxa esquerda!’ Após ele fazer isso, eu perguntei: ‘Você ainda o vê?’ Ele disse, ‘sim’. Então o deixei se sentar novamente sobre minha coxa direita e o perguntei novamente se ele ainda o via. Quando novamente respondeu afirmativamente, eu o deixei se sentar em meu colo e o perguntei novamente se o via. Quando ele confirmou, eu suspirei e removi meu véu. Então eu o perguntei novamente se ele ainda o via e ele disse ‘não’. Então eu gritei: ‘Alegre-se, meu primo, e tenha bom ânimo, por Allah, é um anjo e não Satanás!’”
Ibn Ishaq disse mais: “Quando eu compartilhei essa tradição com Abd Allah ibn Hassan, ele disse: ‘Eu ouvi a mesma tradição de minha mãe Fátima, filha de Husain, em nome de Khadija, com a diferença que nessa tradição Khadika põe o profeta sob suas vestes, de modo que Gabriel desaparece.’”*
Muhammad não se opôs a esse tipo de discernimento espiritual por meio de contato marital. Isso fica em total oposição ao teste de espíritos do Novo Testamento (cf. I João 4:1-3). Aqui o baixo nível de conhecimento de Deus e a falta de devoção na família de Muhammad se tornam evidentes.
2.03 -- A ascensão da primeira comunidade islâmica (começando em cerca de 610 d.C.)
2.03.1 -- A posição privilegiada de Khadija, esposa de Muhammad
Khadija creu em Muhammad e considerou a revelação autêntica. Ela apoiou seu marido em seus desígnios. Ela foi a primeira a crer em Allah, seu mensageiro e na revelação. Assim, por meio dela, Allah o confortou, porque sempre que ele ouvia algo desagradável, sofria oposição, era acusado de mentira e, consequentemente, ficava desanimado, Allah o confortava por meio de Khadija. Quando ele voltava para casa para estar com ela, ela sempre o animava, confirmando a ele a fé que tinha nele e o fazendo saber que as conversas das pessoas nada significavam.
Hisham ibn ‘Urwa me relatou o que veio da parte de seu pai, que ouviu de Abd Allah ibn Dja’far ibn Abi Talib, como Muhammad teria dito: “Eu fui ordenado a anunciar a Khadija que ela receberá uma casa de Qasab, na qual não há barulhos ou enfermidade” (Qasab é uma pérola oca). Além disso, um homem confiável me disse que Gabriel foi a Muhammad e disse: “Saúde Khadija da parte de seu Senhor!” Quando Muhammad entregou a saudação a ela, ela disse: “Allah é salvação; dele vem salvação e que a salvação esteja sobre Gabriel!”*
2.03.2 -- Quando as revelações pararam
Quando as revelações pararam por um tempo, Muhammad ficou muito preocupado.*
Foi então que Gabriel o entregou a Sura al-Duha 93:1-9, na qual Allah, que o demonstraram muita misericórdia, jurou:
Com essas palavras, Allah o lembrou de como fora misericordioso para com ele e como, por meio de seu favor, o resgatou de sua situação de órfão, de erro e de pobreza.
2.03.3 -- O início da obrigação de orar
Então Muhammad foi orientado a orar, e ele orou. Primeiro ele foi ensinado como os rituais de oração funcionavam na prática. Depois Allah aumentou o número de prostrações de cada um em casa para quatro. Para aqueles viajando, permaneceu tal como inicialmente instruído.
A ordem dada a Muhammad, a respeito de como e o que deveria orar, veio da seguinte maneira: Gabriel veio a ele nas altitudes de Meca, pressionou um de seus calcanhares para dentro da terra e ao longo do vale, e um poço de água jorrando apareceu. Então Gabriel se lavou. Muhammad o observou, vendo como ele se lavava antes de orar. Então ele seguiu seu exemplo.* Após isso, Gabriel orou e Muhammad orou com as mesmas palavras em seguida. Após Gabriel deixá-lo, Muhammad voltou a Khadija e a mostrou como se deveria lavar antes de orar. Então ele orou, tal como Gabriel o mostrara, e ela orou da mesma forma.**
O ritual de lavação no islã deixa claro que o muçulmano tem uma noção oculta de culpa e de pecado, e ele suspeita que sem perdão de pecados uma oração não pode ser respondida por Deus. Porém, a água não pode limpar pecados. A ritual islâmico de se levar permanece um símbolo externo, sem efeito interno.
A prática moderna de cinco orações por dia não vem do Alcorão. Essas regras são baseadas em tradições orais de Muhammad.
** A oração oficial no islã não possui diálogo livre e aberto com Deus, seja em petição ou intercessão, louvor e adoração, mas representa uma liturgia literalmente prescrita, rígida, para adoração do grande, distante e desconhecido Allah. Muhammad não conhecia orações espirituais. O espírito que o habitava não orava. O Anjo Gabriel orou diante dele e Muhammad repetiu as mesmas palavras em seguida (Sura al-Fatiha 1:1-7).
Gabriel prescreveu a Muhammad os cinco momentos diários de se orar: a oração do meio dia ocorria logo que o sol começava a se mover a oeste. A oração da tarde começava logo que a sombra de alguém equivalesse ao tamanho real da própria pessoa, e a oração do fim da tarde quando o sol se punha. A oração da noite quando o último raio vermelho de sol desaparecesse. A oração da manhã era praticada logo que a luz da aurora despontava, e a do meio dia era repetida novamente tão logo a sombra equivalesse à altura da pessoa, a da tarde logo que a sombra tivesse o dobro da altura da pessoa. A oração do fim da tarde conforme o dia anterior, quando o sol se punha e a da noite quando o primeiro terço do sol já se ocultava. Então seguia-se novamente à oração da manhã, logo que o dia nascia, antes que fosse visível no horizonte.*
Essas orações islâmicas não são espirituais ou pessoais, realizadas em resposta à palavra de Deus; elas consistem de fórmulas prescritas e fixas, que exigem repetição, sujeição e disciplina. Essa forma de adoração legalista é uma oração para escravos, não para pessoas livres que podem se dirigir a Deus como seu Pai.
Então Gabriel disse a Muhammad: “A hora da oração é aquela entre o tempo em que você orou ontem e hoje.”
2.03.4 -- O primo de Muhammad, Ali, se torna o primeiro homem a crer
O primeiro homem a crer em Muhammad, que orou com ele e que creu em suas revelações, foi ‘Ali ibn Abi Talib ibn Abd al-Muttalib ibn Hashim, de dez anos de idade. Allah foi misericordioso para com ele por poder viver com Muhammad antes do islã.
Foram o favor e a graça divina sobre Ali que, certa vez, fez com que os coraixitas fossem atingidos por um período de grande escassez. Como Abu Talib tinha uma grande família, Muhammad disse a seu tio al-‘Abbas, que era o homem mais rico entre os Banu Hashim: “Você sabe que seu irmão, Abu Talib, tem uma grande família e que todos estão sofrendo por causa dessa seca. Portanto, vamos a ele para facilitar-lhe as coisas, de modo que eu ficarei com um filho dele e você com outro.” Al-‘Abbas concordou com isso. Ele foi com Muhammad a Abu Talib. Eles o contaram que vieram para aliviar-lhe até que o tempo da seca tivesse passado. Abu Talib respondeu: “Se vocês deixarem ‘Aqil comigo, façam o que quiser.” Muhammad tomou a ‘Ali e o abraçou; al-‘Abbas fez o mesmo com Ja'far. Dessa forma, ‘Ali chegou a Muhammad. Ele o obedeceu, nele creu e o teve por fiel. Ja'far, porém, permaneceu com al-‘Abbas até que se converteu ao islã e não precisou mais de seu tio.
Alguns estudiosos dizem que logo que chegou a hora de orar, Muhammad saiu para os vales à volta de Meca. ‘Ali teria o acompanhado e orado com ele, sem que seu pai ou seu povo soubessem sobre isso. No começo da noite eles teriam retornado juntos. Isso continuou por algum tempo até que, um dia, durante a oração, eles foram pegos desprevenidos por Abu Talib.* Ele perguntou a Muhammad: “Que tipo de religião é essa na qual você acredita?” Ele respondeu: “Essa é a religião de Allah, de seus anjos e de seus mensageiros. Essa é a religião de nosso pai Abraão, pela qual Allah me enviou ao povo. Você, meu tio, bem merece que eu o instrua e o chame para o caminho. Você é mais que digno de seguir ao meu chamado e de me auxiliar.” Abu Talib respondeu: “Eu não posso, meu sobrinho, abandonar a fé de meus pais. Mas, por Allah, enquanto eu viver, nada de mau acontecerá contra você.” Além disso, dizem, ele perguntou a ‘Ali: “Qual é a sua fé, meu filho?” ‘Ali teria respondido: “Eu creio no mensageiro de Allah, meu pai, e acredito em sua revelação. Eu oro com ele a Allah e o sigo.” É assumido que Abu Talib tenha respondido: “Certamente ele somente te fará bem, então continue com ele!”
2.03.5 -- O ex-escravo de Muhammad, Zaid ibn Haritha, se torna o segundo homem a seguir o islã
Posteriormente, Zaid ibn Haritha, o ex-escravo de Muhammad, se converteu ao islã. Ele foi o primeiro homem adulto a se converter. Hakin ibn Hizam ibn Khawailid o trouxe da Síria quando aquele ainda era pré-adolescente. Quando sua tia Khadija – que já naquele tempo era esposa de Muhammad – o visitou, ele deu a ela a opção de escolher qualquer escravo. Ela escolheu a Zaid. Quando Muhammad viu Zaid com ela, ele a perguntou se poderia ficar com ele. Ela o deu a seu marido e ele o concedeu liberdade. Além disso, ele o adotou como filho. Isso aconteceu antes de seu chamado profético. Posteriormente Haritha encontrou seu filho Zaid com Muhammad. Muhammad disse a Zaid: “Se você quiser, fique comigo, se não, parta com seu pai.” Zaid escolheu ficar com Muhammad. Quando Allah enviou Muhammad como profeta, Zaid creu, se tornou muçulmano e orou com ele. Depois, quando Allah deu a ordem: “nomeiem seus filhos adotivos segundo seus pais,” ele se tornou conhecido como Zaid ibn Haritha.
2.03.6 -- A conversão e zelo de Abu Bakr, o futuro sogro de Muhammad
Posteriormente, Abu Bakr ibn Abi Quhafa se converteu ao islã, cujo nome real era ‘Atiq. Seu pai era Uthman. O nome real de Abu Bakr era Abd Allah, enquanto “Atiq” era seu apelido, o qual recebeu por causa de sua beleza e de seu semblante nobre. Quando Abu Bakr se tornou muçulmano, ele confessou abertamente o islã e desafiou os outros a se converterem a Allah e ao seu mensageiro. Ele era um homem afável e genial e todos gostavam dele. Ele era o coraixita mais entendido e o mais bem informado a respeito das forças e fraquezas dos ancestrais coraixitas. Ele era um mercador benevolente e de boa moral. As pessoas de sua tribo frequentemente iam a ele para serem aconselhadas a respeito de negócios comerciais, já que ele tinha muita experiência em comércio e em outros assuntos. Seus modos agradavam a todos. Ele convidou a todos os que confiavam nele e que buscavam sua companhia a seguirem o islã.
Por causa do desafio de Abu Bakr, Uthman ibn ‘Affan se converteu, bem como Zubair ibn al-Awwam, Abd al-Rahman ibn Auf, Sa'd ibn Abi Waqqas e Talha ibn ‘Ubaid Allah. Quando eles se converteram, Abu Bakr foi com eles a Muhammad. Eles confessaram o islã e oraram com ele. Muhammad teria dito: “Além de Abu Bakr*, ninguém que eu chamei ao islã aceitou sem hesitação, dúvida ou objeções. Abu Bakr foi o único que não objetou e que de forma alguma hesitou.”
Esses oito homens abriram caminho para todos os outros crentes no islã. Eles oraram e creram em Muhammad e em sua revelação divina.
2.04 -- A oposição dos mecanos (cerca de 613 d.C.)
2.04.1 -- O avanço do islã entre os membros tribais
No período seguinte, mais e mais homens e mulheres aceitaram o islã. Em Meca houve muita conversa a respeito do novo grupo. Três anos após seu envio, Muhammad recebeu ordem de Allah para pregar em público sua revelação, a fim de familiarizá-los com o islã e convertê-los. “Proclama, pois, o que te tem sido ordenado e afasta-te do idólatras.” (Sura al-Hijr 15:94) “E dize-lhes: Sou o elucidativo admoestador.” (Sura al-Hijr 15:89) “E admoesta os teus parentes mais próximos. E abaixa as tuas asas para aqueles que te seguirem...” (Sura al-Shu’ara’ 26:214,215).
Durante as fases iniciais do islã, os companheiros de Muhammad desceram para ravinas mais reservadas e ocultaram suas orações de seu povo. Um dia, quando Sa'd ibn Abi Waqqas e outros companheiros de Muhammad estavam orando em uma das ravinas próximas a Meca, apareceram diversos idólatras que começaram a seduzi-los e a desafiá-los a batalhar, por meio de seus insultos. Naquele tempo, Sa'd ibn Abi Waqqas feriu um dos idólatras com a queixada de um burro. Esse foi o primeiro sangue derramado em favor do avanço do islã.
Quando Muhammad saiu em público com sua religião, seu povo não se afastou e não se opôs a ele até que ele falou dos deuses deles e os diminuiu. Foi então que eles começaram a negá-los e a apresente animosidade, com exceção para os que Allah preservou por meio do islã. Esses, porém, eram pequenos e desprezados.
2.04.2 -- Muhammad sob a proteção de seu tio, Abu Talib
Com esse conflito, Abu Talib teve pena de Muhammad e o protegeu. Muhammad obedeceu à ordem de Allah e não permitiu que qualquer coisa o impedisse de proclamar sua fé. Quando os coraixitas foram forçados a concluir que Muhammad não se retrataria de coisa alguma e que estava irremediável em suas críticas contra seus deuses, e que Abu Talib estava bem disposto a defendê-lo e a não entregá-lo, muitos dos mais respeitados membros da sociedade foram a Abu Talib e disseram-lhe: “Ó, Abu Talib,, seu sobrinho ridiculariza nossos deuses, fala de maneira vil contra nossa fé, corrompe nossos jovens e desvia nossos pais. Ou você põe um freio nele ou o entrega a nós, já tanto você quanto nós temos opinião diferente da dele, e todos veremos como você se aliviará dele.”* Não obstante, Abu Talib falou palavras gentis a eles e os refutou com um discurso brando, até que eles foram embora.
Nesse meio tempo, Muhammad continuou a proclamar a crença em Allah e a convocar outros para o islã. As tensões entre si e os coraixitas continuaram a crescer. Eles evitavam e odiavam a Muhammad, falavam muito dele e instigavam uns aos outros à animosidade contra ele. Novamente procuraram a Abu Talib e disseram: “Você é um homem honrado de alta estima entre nós. Nós o pedimos uma vez para que pusesse um fim às ações de seu sobrinho contra nós. Mas você nada fez. Por Allah, nós não vamos mais tolerar que ele diminua nossos pais, desvie nossos jovens e amaldiçoe nossos deuses. Ou você o mantém longe de nós ou nós lutaremos contra vocês dois até que um de nós pereça.”
Após isso eles partiram. Abu Talib ficou muito perturbado pela divisão entre seu povo, mas ele não quis e nem podia desistir de ou entregar Muhammad. Abu Talib foi a Muhammad e repetiu a ele as palavras que ouviu e disse: “Poupe a mim e a si e não me ponha carga que eu não possa suportar!”
Muhammad pensou que seu tio já havia tomado a decisão de retirar seu apoio e de entregá-lo, já que se sentia fraco demais para protegê-lo. Por isso ele disse: “Por Allah, se ele pusessem o sol à minha direita e à lua à minha esquerda e exigissem de mim que abandonasse minha causa se não eu pereceria, ainda assim eu não desistiria.” Então ele chorou* e se levantou. Quando ele estava prestes a partir, seu tio o segurou e disse: “Vá, e fale o que você quiser. Por Allah, eu nunca o entregarei.”
Quando os coraixitas observaram que Abu Talib não ia retirar seu apoio do mensageiro de Allah e que não pretendia entregá-lo, e que estava mais inclinado a romper com eles e fazer deles seus inimigos, foram ter com ele com Umara ibn al-Walid e disseram: “Aqui está Umara ibn al-Walid, o mais corajoso e gracioso de todos os jovens coraixitas. Fique com ele, faça uso de seu entendimento e o tome por ajudante e entregue seu sobrinho para nós, já que foi infiel a você e á fé de seus pais. Ele abandonou sua comunidade e seduziu os jovens, de modo que precisamos matá-lo. Ele também é apenas um homem como qualquer outro.”
Abu Talib respondeu: “Por Allah, vocês exigem de mim algo indigno. Vocês querem me dar seu filho para que eu cuide dele e eu devo entregar a vocês meu filho para que vocês o matem. Por Allah, nada de bom pode vir disso!”
Então al-Mut’im ibn Adi disse: “Por Allah, os homens de sua tribo estão certos contra você e estão tentando poupá-lo de algo desagradável. Eu vejo, porém, que nada do que eles oferecem te parece bom.” Abu Talib respondeu: “Por Allah, vocês não têm direito sobre mim, mas ainda assim parecem estar determinados a me abandonar e a se unir aos outros contra mim. Façam o que vos parece certo!”
A disputa começou a tomar força. Pessoas se armaram para a batalha e demonstravam hostilidade umas contra as outras. Cada tribo tentava dissuadir os companheiros de Muhammad de sua fé. Alguns deles eram mal-tratados.
Muhammad, porém, era protegido por seu tio Abu Talib, que, quando viu o que os coraixitas faziam contra os crentes, clamou aos Banu Hashim e Muttalib para que oferecessem proteção a Muhammad e que ficassem de seu lado. Eles atenderam a seu chamado e se uniram a ele, exceto por Abu Lahab, o inimigo desprezível de Allah.
2.04.3 -- A campanha de difamação dos coraixitas contra Muhammad
Em uma ocasião estive reunido um número de coraixitas além de Walid ibn al-Mughira. Ele era um dos líderes mais velhos do povo e disse: “Os dias de festividade estão se aproximando; as caravanas de beduínos virão. Eles já ouviram falar de Muhammad. Façam, portanto, uma resolução conjunta a respeito do que pensamos sobre Muhammad. Ou deveríamos deixar que de nossos contradiga o outro? Não sejamos flagrados em diferença de opinião, de modo que nos acusem de mentir. Então disseram: “Você tem a palavra, pai de Abd Sham. Nós queremos aprovar sua ideia.” Ele, porém, os respondeu: “Falem vocês. Eu sou todo ouvidos!”
Então eles disseram: “Nós queremos dizer que ele é um adivinho (kahin)*.” Então ele respondeu: “Não, por Allah, ele não é um adivinho! Ele fala muito baixo e não fala com as rimas com as quais os adivinhos são familiarizados.”
“Bem”, eles disseram, “então queremos dizer que ele é um possuído (majnun)*.” A isso Walid respondeu: “Ele não é um possuído. Ele não é como aqueles que quase se asfixiam, não fala como possuído e nem como louco.”
Então os coraixitas pensaram: “Bem, então vamos chamá-lo de poeta (sha’ir)*”. Mas a isso ele respondeu: “Ele não é um poeta. Nós conhecemos todas as formas de poesia, e as palavras dele não são de poeta.”
“Bem,” eles argumentaram, “então vamos dizer que ele é um feiticeiro (saahir).* Walid ibn al-Mughira respondeu: “Ele não é feiticeiro. Nós já vimos feiticeiros fazendo seus feitiços. Ele não fala como eles e nem faz amarrações como eles fazem.”
A partir dos textos do Alcorão, pode-se ver que Muhammad era visto pelos moradores de Meca como mentalmente perturbado, como alguém que temiam como se teme a um louco ou a um feiticeiro.
Então eles perguntaram: “Bem, pai de Abd Sham, então o que devemos dizer?” Ele respondeu: “Por Allah, o discurso dele é doce. Sua linhagem é excelente e seus ramos são como um jardim. Disso tudo vocês nada pode dizer contra sem que imediatamente percebam ser mentira. Ainda assim, o melhor que podem fazer é dizer que ele é um feiticeiro, que seu discurso é mágico e que ele separa um homem de seu pai, de seu irmão, de sua esposa e de sua casa!”
Então eles se separaram após chegar a um acordo. Quando chegou o tempo das festas, eles se sentaram ao longo do caminho por onde os peregrinos passavam. Ali eles avisaram a todos sobre Muhammad e disseram-lhes que era um feiticeiro. Contavam tudo o que haviam inventado sobre Muhammad a quem quer que encontrassem. Dessa forma, todos os beduínos voltaram para suas casas após o festival conhecimento de que Muhammad era profeta. Eles falaram dele por toda a Arábia.
Conforme as notícias sobre Muhammad se propagaram mais e mais entre os beduínos e penetraram as províncias, começaram a falar dele também em Medina. Nenhuma outra tribo árabe sabia mais sobre ele do que os Aus e Khazraj, que viviam em Medina. Já desde cedo haviam ouvido sobre ele por meio dos rabinos judeus, que viviam entre eles sob proteção.
2.04.4 -- O que o próprio povo de Muhammad fez a ele
Os coraixitas ficaram mais e mais violentos como resultado das dificuldades que vivenciavam por causa de sua animosidade contra Muhammad. Eles incitaram os mais ousados e audaciosos dentre eles a se voltaram contra Muhammad. Esses o chamavam de mentiroso, o maltratavam e diziam-lhe na cara e publicamente que era um feiticeiro, poeta, adivinho e possuído. Porém, Muhammad cumpriu publicamente a ordem de Allah de que falasse em alta voz o que eles não queriam ouvir. Ele se opôs à crença deles, repudiou os deuses e se desassociou dos descrentes.
Eles disseram: “Nunca passamos por algo parecido. Ele nos chama de tolos, ofende nossos pais, se opõe à nossa fé, divide nosso povo e blasfema contra nossos deuses. De fato, sofremos muito por causa dele.”
Abd Allah ibn Umar ibn al-‘As relatou: “Enquanto eles diziam essas coisas, o próprio Muhammad apareceu, agarrou um dos pilares e começou a andar à volta da construção, passando por eles. Pelo rosto dele, eu posso dizer que eles o haviam insultado. Fiz a mesma observação quando ele passou por eles pela segunda e pela terceira vez. Então ele parou de pé e disse: ‘Ouça isso, comunidade dos coraixitas; por aquele em quem minha alma repousa, eu venho a vocês com o corte do açougueiro** (abatendo cortando a garganta)!”
Jesus também purificou o templo em honra a Seu Pai. Ele, porém, zeloso para restaurar sua própria honra. Ele não ameaçou de morte os comerciantes, mas jogou o dinheiro deles no chão e os ordenou que removessem os animais de sacrifício.
As pessoas ouviram essas palavras e para cada um deles foi como se um pássaro tivesse sentado sobre suas cabeças. Até mesmo o pior dentre eles agora falava dele com palavras gentis, dizendo: “Vá, Abu al-Qasim, por Allah, você não é tolo”, de modo que Muhammad os deixou. No dia seguinte eles estavam novamente reunidos no santuário. Eu estava entre eles e ouvi como um suspirava ao outro: “Você se lembra o que você fez a ele e que ele fez a você, e que ele te fez entender aquilo que não te era agradável e você o deixou ir embora?”
Enquanto falavam de Muhammad, ele apareceu. Eles se sentaram com ele, como um único homem, à sua volta, e perguntaram: “Você realmente tem ofendido nossos deuses e nossa fé?” Ele respondeu: “Sim, eu tenho!” Então eu vi como um deles o agarrou no lugar onde ele havia dobrado seu robe. Abu Bakr apareceu diante dele chorando e disse: “Vocês querem matar um homem que chama Allah de seu Senhor?” Após isso, todos partiram. “Essa foi uma das piores coisas que fizeram a Muhammad.”
Umm Kulthum, a filha de Abu Bakr, nos informou como isso continuou: “Quando meu pai chegou em casa naquele dia, uma parte de sua cabeça estava raspada, dando para ver que ele havia arrancado boa parte de seu cabeço e barba.”
Um homem entendido contou: “Um dia, quando Muhammad saiu, todas as pessoas, tanto livres quanto escravas, o chamaram de mentiroso e o insultaram. Ele voltou para casa e se cobriu com uma manta. Então Allah falou com ele: “Ó tu, emantado! Levante-te e admoesta!” (Sura al-Muddathir 74:1,2).
2.04.5 -- A conversão de Hamza
Abu Jahl passou por Muhammad em Safaa, onde ele o insultou e amaldiçoou por causa de sua nova religião e outras razões. Muhammad não o respondeu nem uma só palavra. Um ex-escravo de Abd Allah ibn Judan, que estava sentado em sua habitação, ouviu tudo. Abu Jahl, então, foi à assembleia dos coraixitas na Caaba e se sentou entre os outros. Não muito depois, Hamza retornou de sua caça com seu arco pendurado em seu corpo. Ele adorava caçar e era um caçador habilidoso. Era seu costume chegar da caça e não voltar para casa antes de andar à volta da Caaba. Quando ele se aproximou da assembleia dos coraixitas, ele permaneceu de pé, os saudou e falou com eles. Ele era um dos homens mais fortes e mais poderosos entre os coraixitas.
Quando ele passou por uma mulher (o profeta já havia ido para casa), ela disse a ele: “Ó, Abu Umara, se você tivesse visto como agora mesmo seu sobrinho Muhammad fora tratado por Abu al-Hakan ibn Hisham! O homem o maltratou e o caluniou. Então saiu sem que Muhammad disse-lhe uma única palavra.”
Como Allah quis abençoar Hamza com sua graça, Hamza se encheu de fúria. Ele andou rapidamente, sem parar, determinado a atacar Abu Jahl se o encontrasse. Quando chegou ao santuário, ele o viu sentado por lá com outros. Ele se aproximou e deu-lhe um forte golpe com seu arco. Então disse: “Você ainda vai ofendê-lo se eu confessar a fé dele e fazer das palavras dele as minhas próprias palavras? Me bata de volta se tiver coragem!” Alguns entre os makhzumitas se levantaram a deram apoio a Abu Jahl. Mas ele respondeu: “Deixe Abu Umara em paz porque, por Allah, eu maldosamente ofendi seu sobrinho.” Hamza continuou como muçulmano e seguiu todos os ensinos de Muhammad. Os coraixitas reconheceram que com Hamza Muhammad havia ganhado formidável reforço, de modo que no futuro vieram a se arrepender de alguns dos insultos que dirigiram a ele.*
2.04.6 -- Como ‘Utba ibn Rabi’a se convenceu sobre Muhammad
Após Hamza ter se convertido e o número dos seguidores de Muhammad ter aumentado, ‘Utba ibn Rabi’a falou durante uma assembleia dos coraixitas: “Não deveria eu ir a Muhammad e fazer-lhe certas propostas, de modo que ele talvez aceite e não nos cause mais problemas com sua crença?” Eles aprovaram que ele poderia ir e falar com Muhammad. ‘Utba se levantou e foi a Muhammad, que estava sentado sozinho no santuário, e disse-lhe: “Você sabe, meu primo, que você desfruta de uma posição de respeito em nosso clã. Agora, porém, você se tornou um pesado fardo que nos tem dividido, tem zombado de nós como se fossemos tolos, blasfemado contra nossos deuses, ofendido nossa religião e acusado os pais que já se foram de seres descrentes. Agora me ouça. Eu farei algumas sugestões a você para que considere. Talvez uma ou outra te seja aceitável.” Muhammad respondeu: “Fale, Abu al-Walid, eu quero te ouvir.”
Então ‘Utba começou: “Se seu propósito é ganhar dinheiro, então nós nos ajuntaremos para reunir o máximo de dinheiro que pudermos para te fazer o homem mais rico entre nós. Se, porém, é honra o que você quer, nós te elegeremos nosso ancião chefe, se modo que sem você nada poderá ser decidido. Nós todos queremos reconhecê-los como nosso príncipe, se assim você desejar. Se um espírito que você não deseja te visitar e não puder afastá-lo, então nós encontraremos um médico para você e te daremos nossos pertences até que você esteja curado; às vezes acontece de um espírito controlar alguém e essa pessoa ser curada.”*
A tentação de Jesus foi diferente da tentação de Muhammad na mesma medida que a pessoa de Jesus é maior do que a pessoa de Muhammad (Mateus 4:1-11). O próprio Satanás tentou Jesus, oferecendo-o todas as riquezas do mundo. Porém, Jesus rejeitou essa oferta demoníaca. Ele não queria ganhar Seu povo por meio de riqueza ou de milagres, mas queria resgatá-los por meio de Sua morte expiatória.
Quando ‘Utba terminou de falar, Muhammad respondeu: “Se você já terminou, agora me ouça: “(Eis aqui) uma revelação do Clemente, Misericordiosíssimo. É um Livro cujos versículos foram detalhados. É um Alcorão árabe destinado a um povo sensato. É alvissareiro e admoestador; porém, a maioria dos humanos o desdenha, sem ao menos escutá-lo.” (Sura Fussilat 41:1-4). Então Muhammad continuou recitando-o uma Sura do Alcorão, e ‘Utba ouviu com atenção, se apoiando com suas mãos às suas costas. Quando Muhammad chegou à passagem: “prostrai-vos ante Deus” (Sura Fussilat 41:37), ‘Utba se prostrou ao chão com Muhammad. Então Muhammad disse-lhe: “Agora você ouviu o que ouviu; agora você sabe o que fazer.”
Então ‘Utba retornou a seus amigos, de modo que um disse ao outro: “Por Allah, juro que ‘Utba está vindo com um semblante totalmente diferente do que quando saiu.” Após ele novamente se assentar com eles, eles o perguntaram: “O que o trás de volta?” Ele respondeu: “Por Allah, eu ouvi palavras que nunca antes vieram aos meus ouvidos. Elas nada têm a ver com poesia, magia ou feitiços. Por isso confiem em mim, me sigam e deixem Muhammad em paz. As palavras que eu ouvi dele causarão grande impressão. Se os beduínos forem hostis a ele, então vocês terão alívio dele por intermédio de outros. Mas se ele sair vitorioso sobre vocês, então o poder dele será o poder de vocês, a força dele será sua força e vocês serão os mais felizes de todos por causa dele.”
Então eles exclamaram: “Por Allah, ele o enfeitiçou com sua língua!” Ele respondeu: “É o que eu penso. Agora façam o que vos parecer bom.”
2.04.7 -- A disputa entre Muhammad e os coraixitas se intensifica
O islã começou a se expandir até mesmo entre as famílias e clãs de coraixitas. Porém, os coraixitas puseram sob custódia aquelas sobre os quais tinham poder e os tentou a renunciar a fé no islã. Após o pôr do sol, um dia eles reuniram os seguintes coraixitas na parede traseira da Caaba: ‘Utba ibn Rabi’a, Schaiba ibn Rabi’a, Abu Sufyan ibn Harb, al-Nadr ibn al-Harith ibn Kalada, um irmão dos Banu Abd al-Dar, Abu al-Bakhtari ibn Hisham, al-Aswad ibn al-Muttalib ibn Asad, Zama’a ibn al-Aswad, al-Walid ibn al-Mughira, Abu Djahl ibn Hisham, Abd Allah ibn Abi Umaiyya, al-‘As ibn Wa’il, Nubaih e Munabbih, filhos de Hajjaj, os sahmitas, e Umaiyya ibn Khalaf. Além deles também estiveram presentes alguns dos mais nobres de cada uma das tribos.
Foi decidido que enviaram alguém a Muhammad para discutir com ele de modo que, posteriormente, eles não seriam responsáveis por ele. Quando o mensageiro chegou a Muhammad e o levou aos nobres coraixitas, Muhammad o seguiu imediatamente, pensando que eles queriam ouvir suas palavras. Ele os convocou a se converter, porquanto a resistência deles lhe era dolorosa. Após ter-se assentado entre eles, eles repetiram suas antigas acusações e fizeram-lhe as mesmas sugestões que fizeram por meio de ‘Utba. Muhammad respondeu: “Eu não preciso de médico, e nem busco dinheiro, honra ou poder. Allan me enviou como mensageiro e revelou um livro a mim, me ordenando a pregar uma boa mensagem e a avisá-los. Eu tenho feito com que a mensagem de meu Senhor chegue a vocês e tenho pregado a verdade. Aceito o que vos trago porque isso vos será boa sorte nesta e na vida futura. Se vocês rejeitarem essa mensagem, eu serei paciente até que Allah se decida entre mim e vocês.”
Então disseram a Muhammad: “Se você não quer aceitar coisa alguma que temos te oferecido, então fique sabendo que temos uma vida difícil, já que a falta de água afeta mais a nós do que aos outros e o nosso vale é muito estreito. Portanto, ore a seu Senhor, que te enviou, para que ele remova as montanhas* que nos cercam, de modo que nossa terra se alargue e seja abençoada com rios, tais como os que estão na Síria e Mesopotâmia; além disso, nossos pais falecidos devem ressuscitar. Depois nisso nós perguntaremos a eles se o que você diz é verdade ou mentira. Se eles disserem que você diz a verdade e você fizer o que te pedimos, nós creremos e reconheceremos que você tem posição extraordinária diante de Allah. Só então te reconheceremos como Seu mensageiro.”
Muhammad respondeu: “Eu já contei a vocês o que Allah me incumbiu de dizer a vocês. Se vocês aceitarem isso, então isso vos será de boa sorte nesta vida e na vida futura; se não, eu aguardarei pacientemente até que Allah decida entre nós.” Eles disseram: “Então que o céu caia pouco a pouco sobre nós, conforme você diz, conforme a vontade de Allah. Doutra sorte não creremos em você.” Muhammad respondeu: “Isso é problema de Allah. Ele fará tudo o que quiser fazer.” Eles responderam: “Ó, Muhammad, seu Senhor sabe muito bem que nos sentamos aqui com você e te fazemos certas exigências. Por que ele não e te conta como você poderia nos refutar e também não nos diz o que fará se não te darmos ouvidos? Nós ouvimos que um homem de Yamama é seu instrutor. Ele se chama Rahman, mas, por Allah, nós nunca creremos em Rahman. Nós fizemos o que deveríamos fazer e não vamos mais tolerar suas ações até que chegue o dia em que ou você nos destruirá ou nós te destruiremos. Nós não creremos em você até que traga Allah e seus anjos até nós.”*
A conspiração dos fariseus contra Jesus havia avançado tanto que eles planejaram Sua morte (Mateus 12:14; 26:4; 27:1; Marcos 3:6; 15:1; João 5:16). Ainda assim, Jessu disse-lhes: “Essa geração adultera não receberá outro sinal a não ser o sinal do profeta Jonas” (Mateus 12:39,40; 16:4; Lucas 11:29). Jesus aprovou sua própria morte e, por meio de fé em Sua própria ressurreição, a converteu em vitória. Muhammad nunca pôde pronunciar tais palavras de certeza de vitória porque no islã não há certeza de salvação. Muhammad permanece morto em sua sepultura e não ressuscitou. Jesus, porém, vive!
2.04.8 -- A tentativa de Abu Jahl matar Muhammad
Após Muhammad já ter se distanciado, Abu Jahl disse: “Vocês veem que Muhammad nada mais faz além de insultar nossa fé, ofender nossos pais, nos declarar estúpidos e blasfemar contra nossos deuses. Portanto, tomo Deus por testemunha, amanhã eu vou à Caaba com uma pedra pesada e que eu ainda consiga carregar com uma só mão. Quando Muhammad se abaixar para orar, eu vou esmagar sua cabeça com a pedra. Vocês poderão tanto me proteger quanto me entregar aos filhos de Abd Manaf para que façam comigo o que quiserem.” A isso os coraixitas responderam: “Nunca te entregaremos! Faça como quiser!”
No dia seguinte, Abu Jahl tomou uma pedra pesada e partiu à espera de Muhammad no santuário. Como de costume, ele vinha cedo para orar, conforme seu costume em Meca, com sua face virada para a Síria, entre a Pedra Negra e a pilar sul, de modo que a Caaba ficava entre ele e a Síria. Todos os coraixitas estavam reunidos para ver o que Abu Jahl faria. Muhammad se prostrou e Abu Jahl se adiantou dele com a pedra. Quando se aproximou, inesperadamente Abu Jahl fugiu. Seu rosto estava irreconhecível e cheio de terror. Sua mão trêmula segurava a pedra até que ele a lançou fora. Os coraixitas se aproximaram dele e perguntaram: “Qual é o problema?” Ele respondeu: “Eu quis fazer o que disse ontem, mas quando me aproximei de Muhammad eu vi um camelo entre ele e eu que tinha cabeça e dentes imensos, tais que nunca vi antes em um camelo. Ele fez como se fosse me devorar!”**
** A proteção sobrenatural que Muhammad experimentou não foi uma proteção misericordiosa de um anjo santo de Deus, mas se pareceu mais com a intervenção de um demônio em forma de animal com face grotesca.
2.04.9 -- Al-Nadr ibn al-Harith – o oponente viajado de Muhammad
Após Abu Jahl ter relatado isso, se levantou al-Nadr ibn al-Harith, que disse: “Ó, coraixitas, por Allah, caiu sobre vocês algo que você não podem vencer com artimanhas. Quando Muhammad era novo, ele foi amado. Ele foi considerado e mais confiável e fiel entre vocês, até que ficou mais velho e lançou sobre vocês o que vocês bem sabem. Então vocês o chamaram de adivinho. Mas, por Allah, ele não é adivinho. Ele não faz encantos e nem amarrações, tal como é costumeiro dos feiticeiros fazer. Ele não faz rimas, tal como vocês fazem, e ele não fala errado. Por isso vocês o chamaram de poeta, mas ele não é poeta. Nós conhecemos os diferentes tipos de versos e eles não se assemelham a seu discurso. Vocês chamaram de possuído por espíritos, mas, por Allah, ele não murmura, grunhe ou delira como alguém possuído. Portanto, considerem seu problema, porquanto vocês estão em uma situação difícil.” Al-Nadr foi um dos oponentes mais maliciosos de Muhammad entre os coraixitas, sendo um dos que o insultava e o odiava. Ele já havia visitado Hira, onde ouvira uma história de Rustem* e Isfendiar*. Como Muhammad agora estava abertamente pregando a fé em Allah e avisando o povo da punição de Allah, sendo que isso já havia impactado muitas pessoas, al-Nadr começou a dizer: “Eu conheço mais histórias bonitas do que Muhammad.” Então ele os contou a história dos reis da Pérsia e de Isfendiar e Rustem. Há oito versos no Alcorão que fazem referência a Nadr, como o verso: “Aquele que, quando lhe são recitados os Nossos versículos, diz: São fábulas dos primitivos,” (Sura al-Qalam 68:15).
2.04.10 -- Como os coraixitas interrogaram os rabinos
Como al-Nadr tornou implausível a mensagem de Muhammad, os coraixitas enviaram-no, juntamente de ‘Uqba ibn Abi Mu'ait, aos rabinos em Medina.* Eles deveriam informá-los sobre o discurso e estranhezas de Muhammad e perguntá-los o que pensavam a respeito dele, acima de tudo, já que os rabinos pertenciam a um povo que possuía um livro. Além disso, eles tinham conhecimento das antigas Escrituras e sabiam muito sobre profetas – o que era algo do qual os coraixitas nada sabiam. Eles viajaram a Medina e foram ter com os rabinos. Conforme as instruções que receberam, falaram sobre Muhammad. A resposta deles foi: “Faça três perguntas a ele, as quais daremos a vocês. Se ele as responder, ele é um profeta enviado; se não, ele é mentiroso. Saibam como fazer com ele! Primeiro perguntem a ele sobre os dois homens que vieram no passado. São relatadas coisas fantásticas a respeito deles. Além disso, perguntem a ele sobre o viajante que chegou aos limites do leste e oeste da terra. Finalmente, pergunte-o a respeito do espírito. Se ele responder, sigam-no, porquanto é profeta. Se ele não tiver resposta, ele é um mentiroso.”
Al-Nadr e ‘Uqba retornaram a Meca e disseram aos coraixitas: “Agora temos uma chance de resolver todo esse problema,” e contaram aos outros as palavras e as perguntas dos rabinos. Então foram a Muhammad e fizeram-lhe as três perguntas. Muhammad respondeu decididamente: “Amanhã eu darei uma resposta.” Ele esperou, porém, por quinze noites sem que outra revelação lhe fosse concedida. Finalmente, os de Meca se reuniram e disseram: “Muhammad prometeu nos dar uma resposta no dia seguinte, mas agora já se passaram quinze noites.” O próprio Muhammad ficou muito preocupado porque não recebia qualquer revelação e porque os mecanos o estavam insultando. Finalmente, Allah enviou Gabriel a Muhammad. Ele disse a Gabriel: “Você se ausentou por muito tempo. Tive medo de algo terrível.” Gabriel respondeu: “Nós somente podemos descer para falar com você sob a ordem de Allah, sue Senhor. Ele ordenou a respeito do que está em nossas mãos, por trás de nós e entre nós.” Então ele recitou a Sura al-Kahf, louvando a Allah e por Muhammad ser o profeta, a qual queriam negá-lo: “Louvado seja Deus que revelou o Livro ao Seu servo” (Sura al-Kahf 18:1). Isso serviou de confirmação para os questionamentos que faziam a respeito dele ser profeta. Além disso, é certo “admoestar do Seu castigo” (Sura al-Kahf 18:2a), cujo castigo é iminente nesta vida e grande agonia na vindoura. Também é certo a ele “alvissarar aos fiéis que praticam o bem que obterão uma boa recompensa, da qual desfrutarão eternamente,” (Sura al-Kahf 18:2b-3), que é uma morada eterna, onde permanecerão imortais aqueles que crerem em suas revelações, as quais os demais consideram mentiras, e que praticam as obras que lhes foram ordenadas praticar. “E para admoestar aqueles que dizem: Deus teve um filho!” (Sura al-Kahf 18:4). Com isso ele se referiu aos coraixitas, que adoravam anjos como filhas de Allah. “A despeito de carecerem de conhecimento a tal respeito; o mesmo tendo acontecido com seus antepassados” (Sura al-Kahf 18:5), porquanto eles não se separaram dos demais e não quiserem ofender sua religião. Gabriel continuou: “É possível que te mortifiques de pena por causa deles, se não crerem nesta Mensagem.” (Sura al-Kahf 18:6).
“Pensas, acaso, que os ocupantes da caverna e da inscrição forma algo extraordinário entre os Nossos sinais? Recorda de quando um grupo de jovens se refugiou na caverna, dizendo: Ó Senhor nosso, concede-nos Tua misericórdia, e reserva-nos um bom êxito em nossa empresa! Adormecemo-los na caverna durante anos. Então despertamo-los, para assegurar-Nos de qual dos dois grupos sabia calcular melhor o tempo que haviam permanecido ali. Narramos-te a sua verdadeira história: Eram jovens, que acreditavam em seu Senhor, pelo que os aumentamos em orientação. E robustecemos os seus corações; e quando se ergueram, dizendo: Nosso Senhor é o Senhor dos céus e da terra e nunca invocaremos nenhuma outra divindade em vez d'Ele; porque, com isso, proferiríamos extravagâncias. Estes povos adoram outras divindades, em vez d'Ele, embora não lhes tenha sido concedida autoridade evidente alguma para tal. Haverá alguém mais iníquo do que quem forja mentiras acerca de Deus? Quando vos afastardes dele, com tudo quanto adoram, além de Deus, refugiai-vos na caverna; então, vosso Senhor vos agraciará com a Sua misericórdia e vos reservará um feliz êxito em vosso empreendimento. E verias o sol, quando se elevava, resvalar a caverna pela direita e, quando se punha, deslizar pela esquerda, enquanto eles ficavam no seu espaço aberto. Este é um dos sinais de Deus. Aquele que Deus encaminhar estará bem encaminhado; por outra, àquele que desviar, jamais poderás achar-lhe protetor que o guie.*” (Sura al-Kahf 18:9-17)
Jesus, porém, nos chamou para a liberdade dos filhos de Deus, que com seu próprio livre arbítrio podem rejeitar ou aceitar a salvação para eles preparada. Cristo morreu em lugar de todos os homens e espera que tenhamos fé Nele como ato de agradecimento por ter nos substituído. A liberdade do cristão em tomar decisões o faz ter responsabilidade e ação.
A predestinação cristã tem sua solução nas palavras do Apóstolo Paulo, que somos escolhidos “em Cristo” (Efésios 1:4). Todas as pessoas foram escolhidas por causa de Jesus, seu representante. Quem Nele crê (e vive com Ele) é justificado (Romanos 10:4).
“(Se os houvesses visto), terias acreditado que estavam despertos, apesar de estarem dormindo, pois Nós os virávamos, ora para a direita, ora para a esquerda, enquanto o seu cão dormia, com as patas estendidas, na entrada da caverna. Sim, se os tivesses visto, terias retrocedido e fugido, transido de espanto!” (Sura al-Kahf 18:18) ... “22 Alguns diziam: Eram três, e o cão deles perfazia um total de quatro. Outros diziam: Eram cinco, e o cão totalizava seis, tentando, sem dúvida, adivinhar o desconhecido. E outros, ainda, diziam: Eram sete, oito com o cão. Dize: Meu Senhor conhece melhor do que ninguém o seu número e só poucos o desconhece! Não discutais, pois, a respeito disto, a menos que seja de um modo claro e não inquiras, sobre eles, ninguém jamais digas: Deixai, que farei isto amanhã, a menos que adiciones: Se Deus quiser! Recorda teu Senhor quando esqueceres, e dize: É possível que meu Senhor me encaminhe para o que está mais próximo da verdade. Eis que permaneceram na caverna trezentos e nove anos.” (Sura al-Kahf 18:22-25).
Com relação à pergunta sobre o viajante, é dito: “Interrogar-te-ão a respeito de Zul-Carnain. Dize-lhes: Relatar-vos-ei algo de sua história: Consolidamos o seu poder na terra e lhe proporcionamos o meio de tudo. E seguiu um rumo”. (Sura al-Kahf 18:83-85) É dito sobre Zul-Carnain (Dois Chifres), que recebeu de Allah mais poder do que qualquer outro. Ele teve acesso a tudo, de modo que pôde subjugar toda a terra, de leste a oeste, até alcançar lugar onde não havia mais pessoas.
Um homem bastante estudado das tradições persas me relatou: “O homem de dois chifres foi um egípcio chamado Marzuban ibn Marzuba, descendente de Junan, filho de Yafith ibn Nuh. Seu nome foi Iskander. Ele é o construtor de Alexandria.”
Thaur ibn Yazid me contou de Khalid ibn Madan al-Kalai, um contemporâneo de Muhammad: “Muhammad uma vez foi questionado sobre os Dois Chifres, e respondeu: ‘Era um anjo, que mediu a terra com uma corda de medir a por baixo.’” Khalid depois relatou que uma vez Umar ouviu alguém chamando pelos Dois Chifres. A isso Muhammad respondeu: “Allah! Perdoe! Não é suficiente que levantes profetas? Agora você quer chamar anjos?"
A respeito da pergunta sobre o espírito, é dito: “Perguntar-te-ão sobre o Espírito. Responde-lhes: O Espírito está sob o comando do meu Senhor, e só vos tem sido concedida uma ínfima parte do saber.” (Sura al-Isra’ 17:85).
Posteriormente, quando Muhammad chegou a meca, os rabinos o perguntaram: “Você se referiu a nós ou a seu povo quando disse: ‘A vocês foi concedida uma ínfima parte do saber?’” Muhammad respondeu: “Tanto a um quanto ao outro.” Então disseram: “Você não leu em sua revelação que a Torá foi dada a nós e que nela tudo é explicado?” Muhammad respondeu: “Ela também, em se tratando do conhecimento de Allah, contém pouca coisa. Porém, para vocês, ela é o bastante para os direcionar.” A respeito dessa objeção dos rabinos, é dito no Alcorão: “Ainda que todas as árvores da terra se convertessem em cálamos e o oceano (em tinta), e lhes fossem somados mais sete oceanos, isso não exauriria as palavras de Deus, porque Deus é Poderoso, Prudentíssimo.” (Sura Luqman 31:27).
A respeito da outra demanda que fizeram, de que ele deveria implorar a Allah por jardins, palácios e tesouros, e que Allah deveria enviar um anjo para testemunha em favor e em defesa de Muhammad, lemos: “E dizem: Que espécie de Mensageiro é este que come as mesmas comidas e anda pelas ruas? Por que não lhe foi enviado um anjo, para que fosse, junto a ele, admoestador? Ou por que não lhe foi enviado um tesouro? Ou por que não possui um vergel do qual desfrute? Os iníquos dizem ainda: Não seguis senão um homem enfeitiçado! Olha com o que te comparam! Porém, assim se desviam, e nunca encontrarão senda alguma. Bendito seja Quem, se Lhe aprouver, pode conceder-te algo melhor do que isso, (tais como): jardins, abaixo dos quais correm os rios, bem como palácios.” (Sura al-Furqan 25:7-10).
“Antes de ti jamais enviamos mensageiros que não comessem os mesmo alimentos e caminhassem pelas ruas, e fizemos alguns, dentre vós, tentarem os outros. Acaso (ó fiéis), sereis perseverantes? Eis que o teu Senhor é Onividente.” (Sura al-Furqan 25:20).
Os seguintes versos são relativos às palavras de Abd Allah ibn Abi Umaiyyaa: “E dizem: Não creremos em ti, a menos que nos faças brotar um manancial da terra, ou que possuas um jardim de tamareiras e videiras, em meio ao qual faças brotar rios abundantes. Ou que faças cair o céus em pedaços sobre nós, como disseste (que aconteceria), ou nos apresentes Deus e os anhos em pessoa, ou que possuas uma casa adornada com ouro, ou que escales o céus, pois jamais creremos na tua ascensão, até que nos apresentes um livro que possamos ler. Dize-lhes: Glorificado seja o meu Senhor! Sou, porventura, algo mais do que um Mensageiro humano?” (Sura al-Isra’ 17:90-93).
A respeito do que disseram sobre um homem de Yamama chamado Rahman que seria professor de Muhammad, lemos no Alcorão: “Assim te enviamos a um povo, ao qual precederam outros, para que lhes recites o que temos revelado, apesar de negarem o Clemente. Dize-lhes: Ele é o meu Senhor! Não há mais divindade além d'Ele! A Ele me encomendo e a Ele será o meu retorno!” (Sura al-Ra’d 13:30).
A respeito do dinheiro que foi oferecido a Muhammad, lemos: “Dize-lhes: Jamais vos exigi recompensa alguma; tudo (que fiz) foi em vosso interesse; e minha recompensa só incumbe a Deus, porque é Testemunha de tudo.” (Sura Saba’ 34:47).
Mesmo após Muhammad ter respondido as perguntas deles e revelado seu conhecimento a respeito de coisas ocultas, provando, assim, que falava a verdade e que realmente era um profeta, a inveja os impediu de crer e de segui-lo. Eles permaneceram em sua teimosia resistente a Allah, se afastando dele com olhos que foram abertos mas que se recusam a ver, permanecendo em descrença. Um deles disse: “E os incrédulos dizem: Não deis ouvidos a este Alcorão: outrossim, fazei bulha durante a sua leitura. Quiçá, assim vencereis!” (Sura Fussilat 41:26).
Abu Jahl disse o seguinte, um dia, zombando de Muhammad e de sua revelação: “Ó, coraixitas! Muhammad afirma que o número de servos de Allah que os agarrará e que o atormentará no inferno é dezenove. Vocês, porém, são o maior clã. Por acaso uns cem de vocês não são suficientes para vencer esses escravos?”
Então Allah revelou: “E não designamos guardiães do fogo, senão os anjos, e não fixamos o seu número, senão como prova para os incrédulos, para que os adeptos do Livro se convençam” (Sura al-Muddathir 74:31).
Após esses encontros cheios de atrito, os coraixitas se afastaram de Muhammad, sem mais dá-lo ouvidos quando recitava em voz alta o Alcorão. Se, apesar disso, alguém o quisesse ouvir enquanto orava, esse alguém o fazia em segredo, com medo dos outros. Se posteriormente descobrisse que fora observado fazendo isso, essa pessoa se escondia dos demais, temendo ser maltratado por eles.
Abd Allah ibn ‘Abbas disse: “O verso: ‘Não profiras (ó Mohammad) a tua oração em voz muito alta, nem em vos demasiado baixa, mas procura um tom médio, entre ambas.’ (Sura al-Isra’ 17:110), foi revelado tendo em vista essas pessoas. Ele não deveria orar tão alto, para que as pessoas não se afastassem dele, mas também não tão baixo, de modo que aqueles que o quisessem ouvir sem serem observados ainda pudessem entendê-lo, aceitar e aplicar o que ouviram para seu próprio bem.
2.04.11 -- Oposição em Meca à recitação das suras
Após Muhammad, o primeiro em Meca a recitar o Alcorão em voz alta foi Abd Allah ibn Mas’ud.* Os companheiros de Muhammad um dia se reuniram e disseram: “Por Allah, os coraixitas ainda nunca ouviram o Alcorão recitado em voz alta para eles. Quem recitará para eles?” – “Eu”, respondeu Abd Allah ibn Mas’ud. Então disseram: “Temos medo dos coraixitas. Precisamos de um homem que pertença a uma tribo que o protegerá caso os coraixitas se levantem contra ele.” Abd Allah respondeu: “Me permitam. Allah me protegerá!” Na manhã seguinte, ele entrou no santuário logo que os coraixitas se reuniram e disse em alta voz: “Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso, o Clemente. Rahman ensinou o Alcorão.” (Sura 55:2). Os coraixitas se sentaram devidamente para prestar atenção e disseram: “O filho de uma escrava recita em alta voz a revelação de Muhammad.” Eles se levantaram e golpeauram-lhe no rosto. Ele, porém, não se deixou abalar, mas continuou recitando um pouco mais antes de retornar a seus companheiros. Eles descobriram traços do golpe em seu rosto e exclamaram: “É disso que temos medo!” Mas ele respondeu: “Os inimigos de Allah nunca pareceram mais desprezíveis para mim do que agora. Se você quiserem, eu recitarei Suras a eles amanhã.” Mas eles responderam: “Já é o bastante; você já os fez ouvir o que eles odeiam.”
2.04.12 -- Como os coraixitas reagiram às recitações de Muhammad
Tão logo Muhammad recitou o Alcorão e exortou os coraixitas a crerem em Allah, eles disseram cheios de desprezo: “Nosso coração permanece coberto e não responde às suas admoestações. Nossos ouvidos estão surdos à sua inteligência. Nós não ouvimos o que você diz. Entre você e nós há uma cortina a nos dividir. Você age segundo sua convicção e não segundo a nossa. Nós não queremos aprender coisa alguma de você.” Em resposta a essas palavras, Allah revelou-lhe: “E, quando recitas o Alcorão, interpomos um véu invisível entre ti e aqueles que não crêem na outra vida. E sigilamos os corações para que não o compreendessem, e ensurdecemos os seus ouvidos. E, quando, no Alcorão, mencionas unicamente teu Senhor, voltam-te as costas desdenhosamente.” (Sura al-Isra’ 17:45,46). Como eles podem entender o que você diz a respeito da unidade de Allah quando pus um véu em volta dos corações deles, tornei-lhes os ouvidos surdos e deixei que uma cortina se erguesse entre você e eles? “Sabemos, melhor do que ninguém, quando vêm escutar-te e porque o fazem; e quando se encontram em confidência, os iníquos dizem: Não seguis senão um homem enfeitiçado! Olha com o que te comparam! Porém, assim se desviam, e nunca encontrarão senda alguma. Dizem: Quê! Quando estivermos reduzidos a ossos e pó, seremos, acaso reencarnados em uma nova criação? 50.Dize-lhes: Ainda que fôsseis pedras ou ferro, ou qualquer outra criação inconcebível às vossas mentes (seríeis ressuscitados). Perguntarão, então: Quem nos ressuscitará? Respondeu-lhes: Quem vos criou da primeira vez!’” (Sura al-Isra’ 17:47-51).
2.04.13 -- A batalha contra os companheiros de Muhammad
Os coraixitas lutaram contra os companheiros crentes de Muhammad. Cada uma das tribos se ergueu contra os fracos muçulmanos que habitavam entre eles. Os muçulmanos foram trancados, apanharam, passaram fome e sede e foram amarrados e postos ao sol. Alguns caíram da fé para evitar a tortura. Outros foram fortalecidos por Allah para que pudessem vencer seus perseguidores. Bilal ibn Rabah, cuja mãe se chamava Hamama, uma mulher que, posteriormente, Abu Bakr libertou, naquele tempo pertencia a um dos filhos de Jumah. Ele foi um dos verdadeiramente fiéis. Umaiyya ibn Khalaf o conduziu em pleno calor do meio dia a um vale ao lado de Meca, o jogou ao chão de costas, pôs uma pedra pesada sobre seu peito e exclamou: “Eu te deixarei morrer assim se você não se afastar de Muhammad e adorar a Lat e Uzza.” Mas Bilal continuou gritando: “Um! Um!” Hisham ibn ‘Urwa me contou o seguinte a respeito de seu pai: “Enquanto ele estava sendo atormentado, chegou Waraqa ibn Nawfal; como Bilal gritava ‘um, um!’, Waraqa disse: ‘Sim, por Allah, Bilal, um, um!’ Então ele se virou a Umaiyya e a seus ajudantes dos Banu Jumah e disse: ‘Por Allah, se você o matar, eu orarei sobre seu túmulo.’” Um dia, quando eles novamente o maltratavam, veio Abu Bakr, cuja casa ficava na quadra dos Banu Jumah, e disse a Umaiyya: “Você não teme o castigo de Allah por maltratar esse pobre homem? Por quanto tempo isso continuará?” Ele respondeu: “É você quem o destruiu, liberte-o de sua miséria!” – “É isso o que farei”, respondeu Abu Bakr. Eu te darei um escravo negro em troca dele, o qual é mais forte do que ele e que é mais disposto à sua fé.” Umaiyya concordou. Abu Bakr concedeu liberdade a Bilal e a outros seis escravos.* Foram eles: Amir ibn Fuhaira, que teve parte nas batalhas de Badr e de Uhud e que morreu como mártir durante a batalha do poço de Ma’uma; Umm Ubais e Zinnira, sendo que Zinnira perdeu sua vista quando Abu Bakr deu-lhe liberdade. Após isso, os coraixitas disseram: “Lat e Uzza foram quem a deixou cega.” Porém ela respondeu: “Vocês estão mentindo; pela casa de Allah, Lat e Uzza não podem fazer mal e nem ajudar!” Então Allah devolveu-lhe a visão. Além disso, ele também libertou Nahdiyya e sua filha. Elas pertenciam a uma mulher dos Banu Abd al-Dar. Abu Bakr esteve com elas quando sua senhoria as enviou com farinha e jurou e que nunca as libertaria. A isso Abu Bakr disse: “Isso é lícito?” Ela respondeu: “Sim; você as desviou, agora as liberte também.” Então ele perguntou pelo preço e as concedeu liberdade. Abu Bakr disse a elas que elas poderiam devolver a farinha da mulher. Então perguntaram: “Não deveríamos primeiro terminar nosso trabalho e depois devolver a farinha?” Ele respondeu: “Vocês podem fazer assim, se quiserem.” Então ele libertou um escravo dos Banu Mu'ammal, um ramo dos Banu ‘Adi ibn Ka’b, que era crente, bem como a ‘Umar, que naquele tempo não era crente e que batia frequentemente em ‘Adi ibn Ka’b para que deixasse o islã, até que se cansasse de bater. Ele dizia a ela que somente parava de bater porque estava cansado. Ela respondia: “Foi Allah quem o fez se cansar.” Abu Bakr a comprou e igualmente a concedeu liberdade. Muhammad ibn Abd Allah ibn Abi ‘Atiq me contou que Amir ibn Abd Allah ibn Zubair ouviu o seguinte de um de seus parentes: Abu Quhaja uma vez disse a Abu Bakr: “meu filho, eu vejo que você sempre compra escravos fracos e os liberta. É melhor você comprar escravos fortes para os libertar, porque eles podem protegê-lo e apoiá-lo.” Abu Bakr respondeu: “Em tudo o que eu faço eu busco satisfazer a Allah.”
Os Banu Bakhzum conduziram a ‘Ammar ibn Yasir, com seus parentes convertidos ao islã, ao chão escaldante de Meca em meio ao calor do meio dia. Então Muhammad aconteceu de passar por ali. É dito que ele teria dito: “Paciência, ó casa de Yasir! O paraíso foi prometido a vocês.” A mãe de ‘Ammar foi morta porque ela não abandonou o islã.*
Foi o maligno Abu Jahl quem instigou os coraixitas contra os crentes. Sempre que ele ouvia que um homem forte e respeitado havia se convertido ao islã, ele o repreendia e o envergonhava, dizendo: “Você abandonou a fé de seu pai, que foi um homem melhor do que você. Nós te consideraremos insano e idiota e destruiremos sua reputação.” Se acontecesse que o que se converteu fosse um comerciante, ele diria: “Por Allah, nós não compraremos mais sua mercadoria e te destruiremos financeiramente.” Se acontecesse de ser uma pessoa pobre ou fraca, ele o espancava e instigava os outros contra ele. Hakim ibn Jubair relatou: “Os politeístas espancaram os companheiros de Muhammad e os fizeram sofrer fome e sede até que não pudesse mais ficar de pé de tanta fraqueza, finalmente vindo a sucumbir à tentação e reconhecendo Lat e Uzza como deusas. Eles até mesmo tiveram de adorar um besouro que passava como se fosse um deus, a fim de escapar da severa punição.”
2.05 -- A primeira migração à Abissínia (cerca de 615 d.C.)
2.05.1 -- A primeira fuga de alguns muçulmanos
Quando Muhammad reconheceu a perigosa situação em que seus seguidores se encontravam, embora ele mesmo tenha permanecido intocado por causa da proteção de Allah e de seu tio, ele disse-lhes: “Como seria para vocês se vocês migrassem à Abissínia?* Lá governa um rei que não tolera injustiça. É um terra onde prevalece a honestidade, onde vocês podem ficar até que Allah os liberte da condição atual.”
Com medo de cair em tentação e a fim de salvar sua fé, os companheiros de Muhammad começaram a migrar à Abissínia. Essa foi a primeira migração de crentes.
O número total de migrantes, sem incluir crianças pequenas que foram levadas pelos pais ou as que nasceram na Abissínia, foi de 83 pessoas, isso se Ammar ibn Yasir for contato, embora haja dúvida se ele tenha ou não acompanhado o grupo.
Uma vez que os muçulmanos encontraram segurança na Abissínia e estavam livres para adorar a Allah sem medo, já que Negus os havia dado sua graciosa proteção, Abd Allah ibn al-Harith ibn Qays compôs os seguintes versos:
2.05.2 -- O pedido de extradição dos coraixitas
Quando os coraixitas ficaram sabendo que os companheiros de Muhammad encontraram descanso e segurança na Abissínia, bem como lugares seguros para habitar, eles se determinaram a enviar dois homens capazes a Negus. Eles haveriam de influenciá-lo a expulsar os muçulmanos de seu país. Os mensageiros foram Abd Allah ibn Abi Rabi’a e Amr ibn al-‘As ibn Wa’il. Eles levavam consigo presentes caros a Negus e a seus patrícios.
Os migrantes (aqueles que buscavam asilo político) explicaram: “Quando chegamos à Abissínia, o Negus nos garantiu a melhor proteção. Fomos autorizados a praticar nossa fé e a adorar a Allah em segurança. Ninguém fez qualquer coisa contra nós e nem tivemos qualquer tipo de problema. Quando os coraixitas ficaram sabendo disso, eles se determinaram a enviar dois homens capazes ao Negus, levando consigo as melhores mercadorias de Meca consigo como presentes. Entre os presentes havia o mais valioso couro, com o qual queria recompensar ricamente o governante e seus principais oficiais. Abd Allah ibn Abi Rabi’a e Amr ibn al-‘As foram instruídos a primeiro dar os presentes aos patrícios e somente dpeois começar a discutir com o Negus e dar a ele os presentes a ele destinados. Depois deveriam fazê-lo um pedido para extraditar os muçulmanos sem ouvi-los.
Os enviados chegaram à Abissínia, onde encontraram as melhores acomodações com os melhores anfitriões. De imediato ele deram presentes aos patrícios, antes mesmo de terem oportunidade de falar com o Negus, dizendo ao povo: “Homens tolos e jovens fugiram para a terra de seu rei, os quais abandonaram a religião de seus pais e que também não aceitam a religião de vocês; eles inventaram uma nova fé, desconhecida a nós e a vocês. É por isso que os homens mais nobres de nosso povo nos enviam ao rei, a fim de trazê-los de volta. Portanto, quando negociarmos com o rei a respeito desse assunto, sugiram-lhe que os entregue sem ouvi-los; vocês os conhecem muito bem e sabem como são reprováveis.”
Uma vez que ao patrícios declararam apoio, os mensageiros deram seus presentes a Negus. Após ter aceitado os presentes, eles repetiram diante do rei o que haviam dito aos patrícios, pedindo em nome dos mais nobres de seu povo – portanto, também em nome de pais e mães de migrantes – que os entregasse. Os patrícios, que estavam à volta do rei, concordaram e disseram: “Certamente que o próprio povo deles os conhece melhor do que nós e sabem bem como se desviaram. Portanto, os entregue. Faça-os retornar com esses enviados a seu próprio povo.” A coisa que os enviados mais temiam era que o próprio Negus falasse com os muçulmanos.
O Negus ficou furioso e gritou: “Por Allah, eu não vou entregar pessoas que vieram ao meu país e que buscaram proteção em mim em vez de em qualquer outro enquanto eu não questioná-los sobre o que esses homens dizem. Se eu determinar que os que esses enviados dizem é verdade, eu os entregarei e os farei partir com seu próprio povo; se não, eu os protegerei e os concederei o direito de viver aqui o quanto quiserem.”
2.05.3 -- O Negus questiona os migrantes*
Um mensageiro foi enviado para convocar os companheiros de Muhammad. Após o mensageiro chegar a ele, eles se reuniram e um perguntou ao outro: “O que você dirá ao rei quando estiver diante dele?” Eles respondiam: “Diremos o que sabemos e o que o profeta nos ordenou, aconteça o que acontecer.”
Quando estavam diante do Negus, que também reunira seus bispos e seus livros à sua volta, ele os perguntou: “Que tipo de religião é essa que os fez abandonar seu próprio povo e que os impede de aceitar a minha fé ou a fé de qualquer outra pessoa?” Ja'far, filho de Abu Talib, respondeu: “Ó, rei, nós estávamos em ignorância, adorávamos deuses e comíamos carne de animais. Nós cometíamos imoralidades, causávamos discórdias em nossos lares e tratávamos mal os forasteiros. O forte devorava o fraco, até que Allah enviou um mensageiro, um de nosso meio, cuja ancestralidade, amor à verdade, fidelidade e virtude nós conhecemos. Ele nos convocou a adorarmos apenas a Allah e a nos afastarmos de imagens e de outros ídolos, aos quais nós e nossos pais adoravam em vez de Allah. Além disso, ele nos ordenou que fossemos sinceros em nossas palavras, que fossemos confiáveis, nos ensinou a amar nossos irmãos e a proteger os visitantes, a nos abster do que está proibido, a não comer sangue, não fazer coisas vergonhosas, a não mentir, não usurpar dos bens dos órfãos e a não difamar mulheres virtuosas. Ele nos ordenou a adorar a Allah sem parceiros, a darmos esmolas e a jejuarmos.”
Após Ja'far ter listado mais mandamentos do islã, ele continuou: “Consideramos Muhammad confiável, acreditamos nele e seguimos o que ele nos trouxe como revelação divina. Nós adoramos apenas a Allah, sem parceiro, renunciamos ao que ele nos proibiu e consideramos lícito aquilo que ele nos permitiu. Por causa disso nosso povo se tornou hostil a nós e nos maltratou. Eles tentaram nos fazer renunciar à nossa fé e nos fazer voltar a adorar os ídolos. Nós precisaríamos tornar a fazer as velhas coisas detestáveis se quiséssemos ser aceitos. Quando começaram a usar de violência, eles nos levaram a um canto e tentaram nos fazer abdicar de nossa fé, por isso migramos ao seu país, escolhemos sua proteção acima de todas as outras e esperamos, ó rei, não ter se suportar injustiça de sua parte.”
O Negus perguntou-lhe se tinha alguma das revelações consigo.
Quando respondeu que sim, Negus solicitou que recitasse para ele. Ja'far leu o início da Sura 19, chamada de Maryam (Maria). Com isso Negus começou a chorar fortemente, de modo que sua barba se encharcou. Até mesmo os patrícios molharam seus livros com suas lágrimas quando ouviram o que fora recitado diante deles. Então Negus disse: “Isso e aquilo que Moisés revelou vêm da mesma fonte. Vão em paz! Estou longe de entregá-los a eles.”
2.05.4 -- O que os migrantes contaram a Negus sobre ‘Isa
Quando os migrantes deixaram o Negus, Amr ibn al-‘As disse: “Por Allah, eu vou contar coisas sobre eles amanhã que os fará perecer como plantas sem raíz.” Abd Allah ibn Abi Rabi’a, o outro mensageiro, disse: “Não faça isso; ainda que eles nos contradigam, eles ainda são nossos parentes.” Amr respondeu: “Por Allah, eu vou contar ao rei que eles dizem que Isa (Jesus), o filho de Maria, é um escravo.”
Na manhã seguinte, Amr foi novamente a Negus e disse: “Ó, rei! Eles dizem coisas más sobre o Cristo. Os convoque e os pergunte o que dizem a respeito dele.” O Negus os deixou serem chamados a fim de questioná-los sobre Cristo.
Posteriormente, Umm Salama disse que “essa foi a coisa mais perigosa pela qual já passamos. Os migrantes se reuniram e um disse ao outro: ‘O que vamos dizer sobre ‘Isa quando ele nos questionar a respeito?’ Eles se determinaram a dizer o que Allah os revelou e o que Muhammad os disse, custe o que custasse. Quando chegaram diante do Negus, ele os perguntou o que pensavam a respeito de ‘Isa,* e Ja'far disse: “Confessamos a respeito dele aquilo que nosso profeta revelou: ‘Ele é um servo de Allah, Seu mensageiro, Seu Espírito e sua Palavra que foi entregue a Maria’” (Sura al-Nisa’ 4:171).
O Negus tomou um pedaço de madeira do chão e disse: “Jesus, o filho de Maria, é da mesma medida que essa madeira, que é da mesma medida do que vocês disseram.” Os patrícios, que estavam de pé à sua volta, murmuraram algo. Mas ele continuou: “Vão em frente e murmurem!” – “Por Allah,” então ele disse aos imigrantes, “vocês podem sair, estão a salvo em meu país. Quem os insultar será punido!”, ele repetiu. “Eu não quero fazê-los mau nem por uma montanha de ouro. Devolvam aos enviados todos os presentes que receberam! Eu não preciso deles! Eu não suborno a Allah quando ele me deu meu reino; por que eu me permitiria ser subornado contra ele? Por que eu haveria de agir contra a vontade de Allah?”
Os enviados partiram envergonhados, sem realizar qualquer coisa.
Nós permanecemos com o Negus, sob a melhor paz e proteção. Enquanto vivemos em seu país, um abissínio organizou uma revolta contra o Negus. Isso nos causou um grande alarme. Nós tememos que o Negus pudesse ser vencido e que seu oponente não nos reconhecesse em nossos direitos. Como o Negus venceu os rebeldes e como apenas o Nilo separava os exércitos inimigos, os companheiros do profeta disseram: “Quem observará a batalha e nos trará notícias de seu desfecho?” Al-Zubair ibn al-Awwam, um dos mais jovens, se voluntariou. Todos concordaram e prepararam-lhe um cantil de água. Ele o pendurou à volta de seu peito e começou a nadar, até que chegou à região da batalha que estava ocorrendo. Nós, porém, oramos a Allah para que concedesse vitória ao Negus e fortalecesse seu governo.
Enquanto aguardávamos para vermos o que aconteceria, al-Zubair retornou, acenou e gritou: “Boas notícias! Negus é o vitorioso!” Allah destruiu Seus inimigos. Por Allah, nunca havíamos tido tanta alegria quanto naquele momento.
O Negus retornou vitorioso porquanto Allah destruira seus inimigos e solidificara seu poder, de modo que toda a Abissínia se aglomerou à sua volta. De nossa parte, tivemos a mais agradável das estadias com ele, até que retornamos a Muhammad em Meca.”
2.05.5 -- A indignação dos abissínios contra o Negus
Ja'far ibn Muhammad me explicou o que ouvira de seu pai: “Um dia, os abissínios se reuniram e acusaram o Negus: ‘Você renunciou à nossa fé!’ O Negus enviou mensageiro a Ja'far e a seus companheiros, preparou-lhes um barco e disse: ‘Subam ao barco, e se eu tiver de fugir, vocês também poderão fugir para onde quiserem; se, porém, eu sair vitorioso, vocês poderão ficar!’ Então escreveu isso em um pedaço de papel: ‘Eu confesso que não há Deus além de Allah e que Muhammad é Seu servo e mensageiro e que Jesus é Seu servo* e mensageiro, Seu Espírito e Sua palavra, a qual Ele assoprou para dentro de Maria.’ Então ele pôs essas palavras no lado direito de suas vestes externas e seguiu em direção aos abissínios, que estavam alinhados em formação de batalha. Ele gritou: ‘Ó, abissínios, não tenho total direito de governar sobre vocês?’ Eles responderam: ‘Sim.’ Então ele perguntou: ‘Como vocês consideram que seja meu estilo de vida entre vocês?’ Eles responderam: ‘O melhor possível.’ – ‘O que é que vocês querem, então?’ – ‘Você abandonou nossa fé e chamou Jesus de servo.’ – ‘E o que vocês acreditam sobre Jesus?’ ‘Dizemos que Ele é o Filho de Deus.’
O Negus pôs sua mão sobre seu peito e disse: “Eu confesso que ‘Isa, Filho de Maria, foi nada além disso.” Com isso ele quis dizer o que estava escrito no papel que estava consigo. Com essas palavras os abissínios ficaram satisfeitos e partiram.
Quando o Negus morreu, Muhammad realizou a oração fúnebre em seu favor em Meca e implorou a Allah por perdão em seu favor.
2.06 -- TESTE
Prezado leitor,
Se você estudou com atenção esse volume, você facilmente será capaz de responder às seguintes questões. Quem responder corretamente 90% dessas questões, nos 11 volumes desta série, receberá de nosso centro um certificado escrito de reconhecimento em:
Estudos Avançados
da vida de Muhammad à luz do Evangelho
- como encorajamento para o futuro serviço para Cristo.
- Como Muhammad intermediou a disputa entre as tribos distantes e antagonizadas dos coraixitas?
- Ibn Hisham diz que judeus, monges cristãos e adivinhos árabes mencionaram Muhammad antes de ser enviado. Como eles sabiam de Muhammad?
- Qual foi o destino de Waraqa ibn Nawfal, ‘Ubaid Allah ibn Djahsh, Uthman ibn al-Huwairith e Zaid ibn Amr? O que os unia um ao outro e a Muhammad?
- Ibn Ishaq disse que a principal característica do nome de Muhammad pode ser encontrada no Evangelho. Do que se trata?
- O que Khadija fez quando Muhammad contou-lhe a revelação que descera sobre ele?
- Como Khadija testou a autenticidade das revelações de Muhammad?
- Por que as revelações de Muhammad cessaram e o que ele fez quando elas pararam? Como as revelações retornaram?
- Por que o nome de Zaid ibn Haritha mudou para Zaid ibn Muhammad? Por que seu nome original voltou?
- Como e por que Abu Talib apoiou a Muhammad?
- Os coraixitas descreveram Muhammad com a ajuda de quatro atributos. Quais são?
- Muhammad disse ao povo dos coraixitas: “Eu venho a vocês com um sacrifício.” Por que ele disse isso?
- Por que ‘Utba ibn Rabi’a negociou com Muhammad?
- Os judeus pediram aos coraixitas que perguntassem três coisas a Muhammad, a fim de verificar se realmente era um profeta. Quais foram essas coisas? Qual foi a resposta de Muhammad?
- Ibn Hisham disse que a primeira pessoa a recitar o Alcorão em Meca foi Abdallah ibn Mas’ud. Por que o último califa – Uthman ibn Affas – se recusou a aceitar o Alcorão de Abdallah ibn Mas’ud?
- Por que os primeiros muçulmanos migraram à Abissínia? Por que eles retornaram de lá?
- Que disputada surgiu entre os refugiados muçulmanos e o Negus? O que os refugiados disseram a respeito de Cristo?
Todo participante deste teste está autorizado, com o propósito de responder as questões, a usar qualquer livro disponível ou a questionar pessoas de confiança, conforme desejado. Aguardamos respostas escritas, incluindo seu endereço completo, seja em papel ou e-mail. Oramos a Jesus, o vivo Senhor, para que Ele possa chamá-lo, enviá-lo, fortalecê-lo e preservá-lo todos os dias de sua vida!
Unidos com você a serviço de Jesus,
Abd al-Masih e Salam Falaki.
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